terça-feira, 30 de dezembro de 2014

É a vaidade social...

UMA LIÇÃO DE HUMILDADE
Um psicólogo fingiu ser varredor durante 1 mês e viveu como um ser invisível.
O psicólogo social FB da Costa vestiu a farda de varredor durante 1 mês e varreu as ruas da Universidade de São Paulo, onde é professor e investigador, para concluir a sua tese de mestrado sobre 'invisibilidade pública'. Ele procurou mostrar com a sua investigação a existência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma percepção humana totalmente condicionada pela divisão social do trabalho, onde se valoriza somente a função social e não a pessoa em si. Quem não está bem posicionado sob esse critério, torna-se uma mera sombra social.
Constatou que, aos olhos da sociedade, os trabalhadores braçais são 'seres invisíveis, sem nome'.
...
Ele trabalhava apenas meio-dia como varredor, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas, mas garante que teve a maior lição de sua vida: “Descobri que um simples BOM DIA, que nunca recebi como varredor, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência”, explica o investigador. Diz que sentiu na pele o que é ser tratado como um objecto e não como um ser humano. “Os meus colegas professores que me abraçavam diariamente nos corredores da Universidade passavam por mim e não me reconheciam por causa da farda que eu usava.”
- O que sentiu, trabalhando como varredor?
Uma profunda angústia.
Uma vez, um dos varredores convidou-me para almoçar no refeitório central. Entrei no Instituto de Psicologia para levantar dinheiro, passei pelo piso térreo, subi as escadas, percorri todo o segundo andar, passei pela biblioteca e pelo centro académico, onde estava muita gente conhecida. Fiz todo esse percurso e ninguém EM ABSOLUTO ME RECONHECEU. Fui inundado de uma indescritível tristeza.
- E depois de um mês a trabalhar como varredor? Isso mudou?
Fui-me habituando a ser ignorado. Quando via um colega professor a aproximar-se de mim, eu até parava de varrer, na esperança de ser reconhecido, mas nem um sequer olhou para mim.
- E quando voltou para casa, para o seu mundo real, o que mudou?
Mudei substancialmente a minha forma de pensar. A partir do momento em que se experiência essa condição social, não se esquece nunca mais. Esta experiência mudou a minha vida, curou a minha doença burguesa, transformou a minha mente. A partir desse dia, nunca mais deixei de cumprimentar um trabalhador. Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe, que é importante, que tem valor.

Aprendi verdadeiramente, com esta experiência, o valor da dignidade.

sábado, 27 de dezembro de 2014

Convite para jantar (entre amigos)

…a minha porta fica em frente ao elevador.
Basta tocares à campainha com o cotovelo que nós abrimos logo.
- Percebi tudo, mas só não compreendo por que é que tenho de carregar nos botões sempre com o cotovelo e de empurrar e puxar portas sempre com o pé?!...
- Amigo Carlos... Não acredito que venhas jantar a minha casa e venhas de mãos vazias!...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Culpados do desastre

As audições parlamentares sobre o colapso do BES já são suficientes para confirmar que esta tragédia podia ter sido evitada
Um dos maiores e mais relevantes bancos da economia portuguesa acabou por ser cobaia de nova legislação europeia, prejudicando directamente milhares de accionistas, obrigacionistas, trabalhadores que vão ser despedidos e empresas que ficaram sem crédito. A maior quota de responsabilidade deste desastre é necessariamente da administração do banco e de Ricardo Salgado, que contaminaram o BES com activos tóxicos do GES e ficaram sujeitos a uma exposição perigosa ao banco de Angola, cujo controlo de gestão perderam. Mas o Banco de Portugal e o Governo também não ficam isentos de culpas.
Armando esteves Pereira, Director-adjunto CM

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

As Moscas

Há dias, pela televisão, conheci o sr. Manuel Agonia.
Creio que a televisão era a SIC, sempre pressurosa e solícita em noticiar episódios que tenham como protagonistas ministros, empresários e afins. O sr. Manuel Agonia, pelo que vi, é um senhor considerável, robusto e, até, um pouco bojudo, que me fez lembrar os desenhos de George Grosz. Faltava-lhe o charuto, no que lhe sobrava de sobranceria. Em posição subalterna, porém muito satisfeito e feliz, caminhavam Pedro Passos Coelho e uma comitiva sorridente. O sr. Agonia, pelo que soube a seguir, é o presidente do conselho de administração do Hospital Senhor do Bonfim, em Vila do Conde, recém-inaugurado. Tudo isto decorre numa nítida perfeição, inclusive os sorrisos, as palmas e os discursos de circunstância. Foi quando a festa se toldou, pois o sr. Agonia, presidente, disse: "É preciso não esquecer que a saúde é um negócio." Caímos na realidade, porque a frase, só na aparência inócua, comporta, no seu bojo, uma doutrina, um projecto e uma alteração social que não devem ser negligenciados. Se queres ter saúde, paga-a. Se não tiveres dinheiro, morre para aí, despejado pela miséria. (Ler mais)
Baptista Bastos, Jornalista

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Prostituição dourada

Em Março de 2012, Paulo Portas anunciava a criação de títulos de residência especiais para cidadãos estrangeiros, oriundos de fora do espaço Schengen, que adquirissem activos imobiliários de valor superior a 750 mil euros em Portugal ou fizessem um investimento com criação de, pelo menos, 30 postos de trabalho. Entre o anúncio e a lei dos vistos dourados aprovada, o investimento necessário diminuiu para 500 mil euros e o número de postos de trabalho a criar para dez, tendo sido acrescentada a possibilidade de transferência/depósito de um milhão de euros.
Em Agosto deste ano, o MNE anunciava "vistos gold já trouxeram para Portugal 817 milhões de euros" nos 1360 vistos atribuídos.
Posteriormente às primeiras (sublinho, primeiras) suspeitas de corrupção vindas a público, que se circunscrevem, por enquanto (sublinho, por enquanto), a altos dirigentes da administração pública, Maria Luís Albuquerque afirmou no Parlamento Europeu que o programa tem sido muito útil a Portugal.
Admito que o programa esteja a ser muito útil para quem vive dos fluxos de capital, como é o caso do conselheiro de Estado Luís Marques Mendes - a sua sociedade de advogados tratou de um terço
dos vistos e parece que também já participa no negócio imobiliário de venda de casas de luxo -, mas para Portugal, não.
O governo não revela o número de postos de trabalho criados com esta iniciativa ou os impostos arrecadados (obviamente, escassos), confundindo, mais uma vez, os proveitos de alguns com o interesse colectivo.
A ideia de um país poder vender os seus títulos de residência é passível de ser discutida, mas deverá ser entendida como uma forma de prostituição. Uma forma de prostituição que nos deve envergonhar sempre que se recusa um visto a quem trabalha pelo país e não tem dinheiro para o pagar. Nos vistos dourados, o Estado vende algo que nos pertence a todos por um valor que só alguns podem pagar, com a particularidade de, no quadro do proxenetismo reinante, não sobrar uma côdea para quem dá o corpo ao manifesto.
Tiago Mota Saraiva,jornal i 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Poema matemático

Um Quociente, apaixonou-se um dia, Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.

Fez da sua uma vida paralela à dela.
Até que se encontraram no Infinito.
 "Quem és tu?" Indagou ele com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas podes chamar-me Hipotenusa."
 E de falarem, descobriram que eram o que, em aritmética, corresponde a alma irmãs primos-entre-si.
 E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação traçando
Ao sabor do momento e da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.
 Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.

Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E, enfim, resolveram casar-se. Constituir um lar.
Mais que um lar. Uma Perpendicular.

Convidaram para padrinhos O Poliedro e a Bissectriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade Integral e diferencial.

E casaram-se e tiveram uma secante e três cones muito engraçadinhos.
E foram felizes até àquele dia em que tudo, afinal, se torna monotonia.

Foi então que surgiu o Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos. Viciosos.

Ofereceu-lhe, a ela, uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.

Ele, Quociente, percebeu que com ela não formava mais Um Todo.
Uma Unidade. Era o Triângulo, chamado amoroso.
E desse problema ela era a fracção Mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade.
E tudo que era espúrio passou a ser Moralidade
Como aliás, em qualquer Sociedade.

  De autor desconhecido.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

domingo, 30 de novembro de 2014

Oráculo?!

Caros:
O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos E os caracteres corrompidos. A pratica da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já se não crê na honestidade dos homens públicos. A classe media abate-se progressivamente na imbecilidade e inercia. O Povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima para baixo! Todo o viver espiritual, parado. O tédio invadiu as almas. A mocidade arrasta-se, envelhecida, das mesas das secretarias, para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce…. O Comercio definha. A industria enfraquece. O salário diminuí, O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A corrupção, tem desiludido o povo Português por forma a desinteressa-lo de todo da Politica, em que vê, não a competência dos que melhor podem governar mas apenas a rivalidade mesquinha de interesses pessoais ou Partidários…

Ao contrário do que podem pensar, não fui eu que escrevi estas palavras. Registou-as RAMALHO ORTIGÃO em Junho de 1871.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Um País que não tem forma de manter a fé

As últimas semanas têm sido férteis em acontecimentos infelizes. Primeiro o gravíssimo escândalo dos vistos dourados, que atinge o coração do nosso Estado;
Depois, PSD e PS decidem fazer ‘haraquíri’ com a questão da reposição das subvenções aos deputados, transformando novamente o Parlamento numa torre de marfim isolada de um País trucidado por anos de austeridade; e, por último, a muito pública detenção de José Sócrates, o antigo primeiro-ministro que polariza opiniões como mais ninguém neste país.
Independentemente do desfecho destes processos - e são tudo coisas radicalmente diferentes em termos de ritmo e de importância - esta sucessão de acontecimentos é um murro no estômago dos cidadãos e na sua capacidade de acreditar nas elites que dirigem este País, com o poder político à cabeça.
Muito do mal está já feito, por mais que seja essencial defender a presunção de inocência daqueles que não foram sequer ainda acusados (não nos esqueçamos disto). Resta exigir que a Justiça seja rápida, competente, e que defenda o interesse do Estado e, acima de tudo, a lei. Infelizmente, mesmo isso poderá não ser suficiente para restaurar qualquer tipo de fé dos cidadãos nos poderes que vêm liderando Portugal nas últimas décadas. E, sem essa fé, tudo fica mais difícil, para um País que ainda tem tantos e tão complicados desafios pela frente.
Editorial,Económico 

domingo, 23 de novembro de 2014

Joãozinho falando inglês (piada)

A professora chega à sala de aula cumprimenta os alunos e diz:
 - Classe, hoje eu quero que vocês pensem palavras em inglês que usamos, sem traduzirem e façam mímica, para que seus colegas adivinhem a palavra que pensaram, ok?.. (sugere a professora).
Julinha foi a primeira. - Andando, como se olhasse vitrines e segurasse sacolas, todos olharam e entenderam dizendo:
"SHOPPING CENTER!!!"
 - Muito bem, Julinha!.. (diz a professora). Agora você Carlinhos!
 Carlinhos finge estar comendo um lanche, todos entendem o gesto, novamente, a classe responde:
"HAMBURGER!!!"
 - Muito bem, Carlinhos!.. (elogia a professora). Agora sua vez Joãozinho!
Joãozinho, visivelmente animado, pega seu livro e acerta em cheio o rosto do colega sentado ao lado...
A classe, surpresa, olha sem entender, enquanto a professora irritada pergunta:
 - O que significa isso, Joãozinho???
 E ele, com aquela cara de safardana responde:
- FACEBOOK!

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Estranha supervisão

As audições sobre o escândalo BES/GES confirmam que as excelentíssimas autoridades reguladoras funcionam quando tudo corre bem. Em caso de falhas, como nos crimes do BPN ou nos esquemas do BES, notam-se erros primários.
O Banco de Portugal não contactou o regulador dos seguros no penhor da Tranquilidade e avisou demasiado tarde a CMVM, permitindo que os tubarões da Bolsa enganassem milhares de pequenos investidores que compraram gato por lebre em ações do BES. E, qual cereja no topo do bolo, Carlos Costa não afastou Ricardo Salgado após se saber da fuga de milhões no Monte Branco, porque protegeu o direito constitucional do banqueiro à liberdade de escolha da profissão.
Armando Esteves Pereira, Director-adjunto CM

terça-feira, 18 de novembro de 2014

E ninguém vai preso

A comissão parlamentar ao escândalo BES tem todos os ingredientes para superar em interesse o folhetim do inquérito ao BPN. Aliás, o descalabro do império da família Espírito Santo sob o comando de Ricardo Salgado e os crimes de polícia ainda sem castigo do gang de Oliveira e Costa & companhia têm mais pontos em comum do que a origem destes banqueiros levaria a supor.
Quando rebentou o BPN, Ricardo Salgado olhava de alto para o arrivista Oliveira e Costa, que a política tinha levado à Banca e que perante a elite era uma espécie de pistoleiro. Mas afinal a mais ilustre dinastia financeira esqueceu-se do bom nome e do prestígio acumulado de 140 anos para entrar numa espiral que em alguns casos teve episódios semelhantes a qualquer D. Branca.
Com tanta gente prejudicada, com custos milionários para os contribuintes, com tantos empregos destruídos, quer no BPN, quer agora no escândalo do BES/GES, há uma pergunta inquietante que persiste: e ninguém vai preso?
Armando esteves Pereira, Director-adjunto CM

domingo, 16 de novembro de 2014

Santa Maria livrai-nos dos deputados

O atendimento na Estrela era personalizado. Não havia extractos, e as contas eram tituladas com nomes bizarros de animais ou plantas.
Com o aproximar da data em que terão de prestar declarações na comissão parlamentar de inquérito, cresce a fé dos vários ramos da família Espírito Santo. E é vê-los todos os domingos, às 11h00, na missa que é rezada na capela privada que se encontra nas traseiras da casa de Ricardo Salgado no Guincho e onde repousam na cripta os restos mortais de Ricardo Espírito Santo Silva e sua esposa, Mary Cohen Espírito Santo Silva.
Os membros mais importantes da família ocupam os lugares da frente, enquanto os restantes ficam do lado de fora da pequena capela. As orações evocam os antigos elementos da família e os primeiros investimentos que permitiram o regresso a Portugal e a compra do BES, como o velhinho empreendimento imobiliário ‘Santa Ulisseia’, em Miami, nos Estados Unidos da América.
Recordam-se também os que sempre foram fiéis. Os clientes que, com hora e dia marcado, eram recebidos na rua de São Bernardo, à Estrela, onde também se reunia o Conselho Superior do grupo, para mostrar as suas disponibilidades financeiras em troca de rentabilidades e aumentos de capital sempre lucrativos. O método era sempre igual. O cliente passava um cheque ao portador com a quantia que queria investir junto do Grupo Espírito Santo. O dinheiro era levantado das contas portuguesas e aparecia, como que por magia, na Compagnie Financière Espírito Santo, agora convertida em Banco Privée Espírito Santo, na Suíça.
Parte do investimento era aplicado em grandes companhias cotadas nas bolsas internacionais, com uma preferência especial pelas sociedades francesas, o restante eram aplicações em sociedades do próprio GES. Não havia nenhuns extractos bancários, apenas uma simples folha de papel que mostrava ao cliente o capital acumulado e que era destruída em seguida. As contas estavam todas tituladas com nomes bizarros de animais ou plantas.
Miguel Alexandre Ganhão, Subchefe de Redacção - CM

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Os ricos não pagam a crise

Se os "arquivos" que consultei estiverem correctos, foi na década de 70, era a democracia uma criança e a classe média incipiente, que Acácio Barreiros, líder da UDP, celebrizou um daqueles slogans que ficaram gravados na memória e pichados nas paredes: "Os ricos que paguem a crise!". O sobressalto revolucionário não pegou. Aliás, não passou muito tempo e o país já estava sob tutela do FMI, pagando (sobretudo os muitos pobres e os poucos remediados que havia naquele tempo) os desvarios de uma inexperiente classe política. As famílias, os industriais e os banqueiros, ou seja, os ricos, salvaram, como sempre, as mobílias a tempo.
Quatro décadas depois, está quase tudo na mesma. Voltamos a estar sob tutela do FMI. Voltamos a pagar os desvarios de políticos (já não por inexperiência, mas por incompetência). Voltamos a pedir que os ricos paguem a crise, ou pelo menos parte dela. E voltamos a confirmar que os ricos, alguns deles pela segunda vez, escapam incólumes, uns porque sediaram as suas empresas e rendas em paraísos fiscais respeitáveis, como a Holanda ou o Luxemburgo, outros porque transferiram sem pudor centenas de milhões para paraísos fiscais suspeitos, mas igualmente à prova de bala.(Ler artigo complecto) 
Rafael Barbosa, JN

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

História Dum Ego

A única forma que Cavaco tinha de terminar o mandato com dignidade era antecipando eleições.
Eleições só daqui a um ano, afirma o Presidente da República. A não ser que aconteça uma hecatombe, este governo em estertor vai agonizar o país até lá. Cavaco não é sensível ao estado da nação ou à vontade dos cidadãos. Nem sequer à necessidade de um orçamento que, com eleições no outono, não será apresentado dentro do prazo, criando dificuldades suplementares.
Enfim, o PR defende mais instabilidade em nome da estabilidade. Mas nada disto o preocupa. Uma das poucas coisas que realmente o apoquentam é manter no poder o executivo do seu PSD o mais possível. A ponto de afirmar que o próximo governo tem de ser maioritário – não quer também indicar em quem os portugueses devem votar?
A única forma que Cavaco tinha de terminar o mandato com dignidade e ficar para a história (a outra coisa que o preocupa) era antecipando eleições, cuidando que não seria o seu sucessor a resolver um imbróglio político por si criado. Fazendo o contrário, só pensando em si e nos seus, este PR constará no livros pelos piores motivos. E ponto final.
Joana Amaral Dias, Professora universitária



quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Doutores e operários

O direito ao disparate é a coisa que, na Europa, parece estar mais bem distribuída.
Frente aos patrões alemães, Merkel disse que há demasiados licenciados em Portugal e Espanha. Ora, pouco mais de 17 em cada 100 portugueses adultos são licenciados. Na Alemanha, são mais de 25.
Como não se conhecem declarações de Merkel sobre a necessidade de os alemães deixarem de ir à faculdade, a chanceler exibe uma ideia muito própria da divisão europeia do trabalho.
A norte, doutores, instruídos e, supõe-se, bem pagos; a sul, trabalhadores braçais, a precisarem certamente de maior disciplina nos horários e na idade da reforma.
Se isto não é construção europeia…
Carlos Rodrigues, Director-adjunto CM

domingo, 2 de novembro de 2014

Máxima do reformado

A minha mulher perguntou-me com sarcasmo:
"Que pensas fazer hoje?"
"Nada."
Diz-me ela:
"Isso foi o que fizeste ontem!"
"Sim, mas ainda não acabei."

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Coerente? Quem?

Não tenho paciência para ouvir políticos e muito menos os debates na Assembleia da Republica.

Contudo, nas leituras que faço, encontro informações como esta e que me deixam com receio de quem anda por aí sem acompanhamento médico.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O que viu Passos Coelho em Nuno Crato?

Pedro Passos Coelho noticiou ontem que Nuno Crato, após a catadupa de falhas e erros no início do ano lectivo, se ofereceu, de baraço ao pescoço, ao sacrifício da demissão mas "nunca evitou agarrar no problema e nunca procurou lavar as mãos do assunto. Isso só significa que acertei quando o escolhi para ser ministro da Educação". E, por isso, Crato prossegue, serenamente, a gestão de um ministério onde, no projecto de Orçamento do Estado, se promete cortar para o ano mais 700 milhões de euros.
Se o objectivo de Passos, quando formou governo, foi o de procurar homens e mulheres que teimosamente insistissem em repetir erros em cima de erros, sem nunca perder a determinação com que procuram novos erros para cometer, então, não há dúvida, Nuno Crato foi uma escolha espectacular.
De resto o homem já reincidiu: os tais 700 milhões de cortes inscritos por Maria Luís Albuquerque nas contas da Educação são "na prática, 200 milhões" disse-nos ele guiado, suspeito, pela habitual matemática obstinadamente errada e candidamente adorada pelo chefe do governo. Com números lidos assim adivinho já as casas de apostas a tratar de cotar a data da próxima paralisia das aulas em Portugal: "Será antes das férias de Natal (pagamos 1,2 por cada euro apostado) ou no segundo período (4,50 por cada euro apostado)? (Ler artigo complecto)
Pedro Tadeu, DN

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Uma lição aos humanos


segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A gula fiscal

Os automobilistas que lêem as notícias da descida do preço do petróleo têm dificuldade em perceber porque é que os combustíveis não ficam mais baratos em ritmo semelhante.
 Além da resistência das gasolineiras, que parecem mais lentas a actualizar as descidas de preço do que os ciclos de subida, a carga fiscal explica este mistério. Num litro de gasolina, 57% do custo é para impostos; no gasóleo, a carga fiscal é de 48%. Uma das más notícias do Orçamento apresentado por Maria Luís Albuquerque é que a carga fiscal sobre os combustíveis continuará a aumentar. Além da fatura da taxa verde, há 2 cêntimos por litro para pagamento das famigeradas PPP. Um litro de gasóleo vai pagar 11,1 cêntimos para esta taxa. Ou seja, num depósito de 50 litros, mais de 5 euros vão para esta taxa.
Se este ano a devolução da sobretaxa do IRS dependesse do crescimento das receitas fiscais, os contribuintes teriam uma boa notícia no acerto de contas dos impostos, com a devolução integral. Mas em 2015 a meta é mais difícil, pois a soma das receitas de IVA e de IRS terá de aumentar 6,39%
Armando Esteves Pereira, Director-adjunto CM

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Ainda mais do mesmo

Para os outros portugueses é mais do mesmo: mais impostos.
Só algumas famílias recuperam poder de compra no próximo ano: os reformados que beneficiam da extinção da CES para as pensões até 4611 euros e alguns funcionários públicos que têm um alívio de 20% nos cortes salariais.
Para os outros portugueses é mais do mesmo: mais impostos. Numa previsão optimista de crescimento de 1,5% do PIB, a estimativa de receita fiscal é três vezes superior. Diz muito sobre a pressão fiscal, que tributa cada vez mais tudo o que mexe. E torna difícil a desejada devolução da sobretaxa de IRS.
Armando Esteves Pereira, director-adjunto CM

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Churrasco, essa instituição masculina...

Talvez porque há um certo risco envolvido na actividade, este é o único tipo de cozinha a que um verdadeiro homem se deve dedicar: "A cozinha fora de casa"...
Contudo, não é tarefa fácil. Quando um homem aceita fazer o churrasco põe-se em marcha uma cadeia de acções:
1º) A mulher compra os alimentos;
2º) A mulher faz as saladas, prepara as batatas fritas, o arroz e a sobremesa;
3º) A mulher prepara a carne para ser cozinhada, tempera-a, coloca-a numa travessa e leva-a ao homem que já está à espera ao pé do grelhador, de cerveja fresca na mão;
 Aqui vem a primeira parte realmente importante da questão:
4º) O homem coloca a carne na grelha;
5º) A mulher vai para dentro e põe a mesa;
) A mulher apercebe-se que o homem está com os outros homens a contar anedotas e vem cá fora a correr avisar que a carne se está a queimar; ele aproveita e pede-lhe mais uma cervejinha fresquinha;
7º) A mulher vem cá fora trazer a cerveja e uma travessa...
...e é então que aparece a segunda parte importante do processo:
8º) O homem tira a carne da grelha e entrega-a á mulher;
) Depois de comerem, a mulher levanta a mesa, lava a louça, arruma a cozinha e lava a grelha;

Toda gente dá os parabéns ao homem pela fantástica refeição que ele preparou. O homem pergunta à mulher se lhe soube bem o tempo de folga de que usufruiu e, perante o ar chateado dela, conclui que há mulheres que nunca estão satisfeitas com nada.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Eles mentem. Uma e outra BES.

Nós já nem estranhamos. Que nos mintam, que nos façam passar por tolos, que nos colem uma etiqueta na testa a dizer "idiota". Achamos normal. Encolhemos os ombros. "São todos iguais". Podem dizer tudo e o inverso, podem pulverizar os pés com rajadas de tiros autoinfligidos. Podem, até, construir piadas com aqueles cujas vidas estão a extorquir que nós vamos continuar a achar normal. Abrutalhados eles, abrutalhados nós. Entorpecidos. Já não importa. Mas é importante. O presidente da República, o primeiro-ministro, a ministra das Finanças e o governador do Banco de Portugal juraram a pés juntos que o resgate do BES e a decorrente criação do Novo Banco não iriam custar um centavo aos contribuintes. Confesso que os escutei com aquela abertura de espírito típica da vítima que afaga o carrasco quando este lhe injecta uma substância letal nas veias e lhe sopra ao ouvido: "É para teu bem". (Ler notícia complecta)
Pedro Ivo Carvalho, JN

domingo, 12 de outubro de 2014

Dia de pagamento

Os trunfos políticos de Passos Coelho eram a sua suposta eficiência e presumida honestidade.
Longe vão os tempos em que os maiores trunfos políticos de Passos Coelho eram a sua suposta eficiência e a sua presumida honestidade. A eficiência, que resistiu a ir pelo cano com o facto de a austeridade aumentar a dívida em vez de a controlar, estatelou--se no asfalto com o Citius e os professores. Já a honestidade começou a esboroar-se com o caso Tecnoforma e acaba de estirar-se ao comprido com o BES.
Todos os chefes de um executivo vivem da credibilidade da sua palavra. Mas o mito do homem de Massamá, honrado e moderado, já foi. Passos garantiu que "os contribuintes não voltariam a ser chamados à responsabilidade por problemas que não foram criados por eles", até porque isso seria  "usar o seu dinheiro para pagar a falta de ética e de escrúpulos", e agora o governo declarou que o buraco do BES vai ser coberto pelos contribuintes.
Muito bem, Sr. Primeiro-Ministro. Obriga-nos, então, a pagar dos nossos bolsos a antiética e a ilegalidade. Pois tenho a impressão que a falta de palavra vai o senhor pagá-la. E oxalá também seja a dobrar.
Joana Amaral Dias, Professora Universitária - CM

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Quem escreveu o discurso de Cavaco?

No final da sua presidência, quer mudar o regime. Ficam duas interrogações..
O Presidente propôs uma reflexão a todos os portugueses. Apelou a uma discussão séria sobre o sistema político português, constatou que existe um grau de insatisfação com o regime e definiu como "repulsa" a relação dos cidadãos mais qualificados com o exercício de cargos públicos. Concluiu da necessidade de "virar de pantanas" o sistema eleitoral e dignificar a República e a relação entre eleitos e eleitores. Boas palavras, um bom discurso e duas interrogações.
Cavaco Silva falou da reforma do sistema político, mas nada disse do que julga em relação ao seu próprio papel e ao semipresidencialismo. A segunda interrogação, talvez mais óbvia (logo menos interessante), é que as palavras foram da autoria do homem que está há mais anos no poder em Portugal depois de Salazar. Com tantos anos de ministro, primeiro-ministro e Presidente, provoca estranheza a mensagem. Tão bizarro como seria ouvir Manoel de Oliveira criticar os filmes feitos com câmara fixa, não bateria certo. Dá vontade de perguntar rigorosamente o óbvio: se as coisas estão como estão, se as pessoas se estão nas tintas para os partidos, para a política e para tudo o que Estado representa, então qual o grau de fracasso da sua própria acção, senhor Presidente?(Ler artigo complecto)
Luís Osório, jornal i

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

"Quero que o passarão salte do galho"

O que o passarão tem feito, nestes meses todos, é revender Portugal a interesses obscuros e cobrar impostos. Não confio nele para tal missão.
«(…) Não esqueçamos o caso Tecnoforma. Não pelo caso em si, ou pelas quantias envolvidas ou sonegadas, pessoalmente estou-me nas tintas para os mil contitos do passarão. O que convém não esquecer, dada a falta de memória que por aí vai, é que o passarão ganhou as eleições com um argumento: eu vou limpar Portugal de gente que trepa e se aproveita do Estado e assim faz descambar as balanças. Eu vou varrer os oportunistas, os papa-subsídios, os proventos de mão esquerda, os funcionários públicos bissextos, os tipos que enterraram o país na dívida e agora não são capazes de o governar obedecendo aos preceitos da Alemanha benfeitora. Eu vou ser o salvador da pátria. Eu sou impoluto e limpo de coração, não tenho fortuna pessoal, sou remediado e renunciei a subvenções vitalícias, férias no estrangeiro e salmão em executiva. A minha cidade preferida é Vila Real (quando o passarão disse isto, eu soube logo que ele estava a mentir... adiante).
Este o argumento. Com o dizia a defunta Mrs.Thatcher, primeiro ganha-se o argumento e depois ganha-se o voto. É este o processo. O passarão nem chegou a ganhar o argumento. Atirou-se de cabeça ao voto. Mostrou o plano, anunciou com aquela voz de tenor que a gravata não tinha nódoas e sentou-se à mesa. Sentou ao lado direito, ao lado de deus pai, o passarão maior, conhecido por gostar de relva fresca. Ora, o bom povo português já esqueceu as estupendas trapalhadas destes dois e confessa a sua admiração com a escassa obra beneficente do Centro Português de Cooperação e o seu presidente Passos passarão, mais a mecenas Tecnoforma e o seu offshore em Jersey (por uma vez, não é nas Ilhas Caimão, e no ponto em que estamos, acho admirável) fora o subsídio de reintegração e a fuga aos impostos através desse subterfúgio de funcionários chamado despesas de representação. Isto não é o importante, muita gente apresentou despesas de representação e papou subsídios. Muita gente quis fugir ao braço longo do Estado papão. Muita gente abriu empresas num dia para sacar fundos europeus para as fechar no dia seguinte quando os fundos secaram. A diferença é que essa gente pecadora não anda por aí de mão no peito a ganhar o voto e a chamar piegas aos portugueses e a dizer que somos um povo de cigarras que não quer trabalhar.
O passarão que me perdoe mas a cigarra é um animal simpático. Já um passarão que apresenta como currículo uma carreira à sombra dos tutores do partido e das baldas do partido, não devia apregoar a virtude (nem dizer que Vila Real etc., etc.). Muito menos devia andar com más companhias que recrutam espiões para serviço próprio e vendem o país a retalho sob a manta da "cooperação" e da premência da "ajuda externa". O que o passarão tem feito, estes meses todos, é revender Portugal a interesses obscuros e cobrar impostos. Não confio nele para tal missão. Nem nele nem nos passarocos aplicados e prístinos que o rodeiam. Não quero que o passarão venda a TAP, agora. Nem as Águas de Portugal. Nem o que falta vender antes que a legislatura termine. Quero que o passarão salte do galho.»
Clara Ferreira Alves,Revista Expresso