segunda-feira, 6 de outubro de 2014

"Quero que o passarão salte do galho"

O que o passarão tem feito, nestes meses todos, é revender Portugal a interesses obscuros e cobrar impostos. Não confio nele para tal missão.
«(…) Não esqueçamos o caso Tecnoforma. Não pelo caso em si, ou pelas quantias envolvidas ou sonegadas, pessoalmente estou-me nas tintas para os mil contitos do passarão. O que convém não esquecer, dada a falta de memória que por aí vai, é que o passarão ganhou as eleições com um argumento: eu vou limpar Portugal de gente que trepa e se aproveita do Estado e assim faz descambar as balanças. Eu vou varrer os oportunistas, os papa-subsídios, os proventos de mão esquerda, os funcionários públicos bissextos, os tipos que enterraram o país na dívida e agora não são capazes de o governar obedecendo aos preceitos da Alemanha benfeitora. Eu vou ser o salvador da pátria. Eu sou impoluto e limpo de coração, não tenho fortuna pessoal, sou remediado e renunciei a subvenções vitalícias, férias no estrangeiro e salmão em executiva. A minha cidade preferida é Vila Real (quando o passarão disse isto, eu soube logo que ele estava a mentir... adiante).
Este o argumento. Com o dizia a defunta Mrs.Thatcher, primeiro ganha-se o argumento e depois ganha-se o voto. É este o processo. O passarão nem chegou a ganhar o argumento. Atirou-se de cabeça ao voto. Mostrou o plano, anunciou com aquela voz de tenor que a gravata não tinha nódoas e sentou-se à mesa. Sentou ao lado direito, ao lado de deus pai, o passarão maior, conhecido por gostar de relva fresca. Ora, o bom povo português já esqueceu as estupendas trapalhadas destes dois e confessa a sua admiração com a escassa obra beneficente do Centro Português de Cooperação e o seu presidente Passos passarão, mais a mecenas Tecnoforma e o seu offshore em Jersey (por uma vez, não é nas Ilhas Caimão, e no ponto em que estamos, acho admirável) fora o subsídio de reintegração e a fuga aos impostos através desse subterfúgio de funcionários chamado despesas de representação. Isto não é o importante, muita gente apresentou despesas de representação e papou subsídios. Muita gente quis fugir ao braço longo do Estado papão. Muita gente abriu empresas num dia para sacar fundos europeus para as fechar no dia seguinte quando os fundos secaram. A diferença é que essa gente pecadora não anda por aí de mão no peito a ganhar o voto e a chamar piegas aos portugueses e a dizer que somos um povo de cigarras que não quer trabalhar.
O passarão que me perdoe mas a cigarra é um animal simpático. Já um passarão que apresenta como currículo uma carreira à sombra dos tutores do partido e das baldas do partido, não devia apregoar a virtude (nem dizer que Vila Real etc., etc.). Muito menos devia andar com más companhias que recrutam espiões para serviço próprio e vendem o país a retalho sob a manta da "cooperação" e da premência da "ajuda externa". O que o passarão tem feito, estes meses todos, é revender Portugal a interesses obscuros e cobrar impostos. Não confio nele para tal missão. Nem nele nem nos passarocos aplicados e prístinos que o rodeiam. Não quero que o passarão venda a TAP, agora. Nem as Águas de Portugal. Nem o que falta vender antes que a legislatura termine. Quero que o passarão salte do galho.»
Clara Ferreira Alves,Revista Expresso 

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