O
que o passarão tem feito, nestes meses todos, é revender Portugal a interesses
obscuros e cobrar impostos. Não confio nele para tal missão.
«(…)
Não esqueçamos o caso Tecnoforma. Não pelo caso em si, ou pelas quantias
envolvidas ou sonegadas, pessoalmente estou-me nas tintas para os mil contitos do
passarão. O que convém não esquecer, dada a falta de memória que por aí vai, é
que o passarão ganhou as eleições com um argumento: eu vou limpar Portugal de
gente que trepa e se aproveita do Estado e assim faz descambar as balanças. Eu
vou varrer os oportunistas, os papa-subsídios, os proventos de mão esquerda, os
funcionários públicos bissextos, os tipos que enterraram o país na dívida e
agora não são capazes de o governar obedecendo aos preceitos da Alemanha
benfeitora. Eu vou ser o salvador da pátria. Eu sou impoluto e limpo de
coração, não tenho fortuna pessoal, sou remediado e renunciei a subvenções
vitalícias, férias no estrangeiro e salmão em executiva. A minha cidade
preferida é Vila Real (quando o passarão disse isto, eu soube logo que ele
estava a mentir... adiante).
Este
o argumento. Com o dizia a defunta Mrs.Thatcher, primeiro ganha-se o argumento
e depois ganha-se o voto. É este o processo. O passarão nem chegou a ganhar o
argumento. Atirou-se de cabeça ao voto. Mostrou o plano, anunciou com aquela
voz de tenor que a gravata não tinha nódoas e sentou-se à mesa. Sentou ao lado
direito, ao lado de deus pai, o passarão maior, conhecido por gostar de relva
fresca. Ora, o bom povo português já esqueceu as estupendas trapalhadas destes
dois e confessa a sua admiração com a escassa obra beneficente do Centro
Português de Cooperação e o seu presidente Passos passarão, mais a mecenas
Tecnoforma e o seu offshore em Jersey (por uma vez, não é nas Ilhas Caimão, e
no ponto em que estamos, acho admirável) fora o subsídio de reintegração e a
fuga aos impostos através desse subterfúgio de funcionários chamado despesas de
representação. Isto não é o importante, muita gente apresentou despesas de
representação e papou subsídios. Muita gente quis fugir ao braço longo do
Estado papão. Muita gente abriu empresas num dia para sacar fundos europeus
para as fechar no dia seguinte quando os fundos secaram. A diferença é que essa
gente pecadora não anda por aí de mão no peito a ganhar o voto e a chamar
piegas aos portugueses e a dizer que somos um povo de cigarras que não quer
trabalhar.
O
passarão que me perdoe mas a cigarra é um animal simpático. Já um passarão que
apresenta como currículo uma carreira à sombra dos tutores do partido e das
baldas do partido, não devia apregoar a virtude (nem dizer que Vila Real etc.,
etc.). Muito menos devia andar com más companhias que recrutam espiões para
serviço próprio e vendem o país a retalho sob a manta da "cooperação"
e da premência da "ajuda externa". O que o passarão tem feito, estes
meses todos, é revender Portugal a interesses obscuros e cobrar impostos. Não
confio nele para tal missão. Nem nele nem nos passarocos aplicados e prístinos
que o rodeiam. Não quero que o passarão venda a TAP, agora. Nem as Águas de
Portugal. Nem o que falta vender antes que a legislatura termine. Quero que o passarão
salte do galho.»
Clara Ferreira Alves,Revista Expresso
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