terça-feira, 30 de dezembro de 2014

É a vaidade social...

UMA LIÇÃO DE HUMILDADE
Um psicólogo fingiu ser varredor durante 1 mês e viveu como um ser invisível.
O psicólogo social FB da Costa vestiu a farda de varredor durante 1 mês e varreu as ruas da Universidade de São Paulo, onde é professor e investigador, para concluir a sua tese de mestrado sobre 'invisibilidade pública'. Ele procurou mostrar com a sua investigação a existência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma percepção humana totalmente condicionada pela divisão social do trabalho, onde se valoriza somente a função social e não a pessoa em si. Quem não está bem posicionado sob esse critério, torna-se uma mera sombra social.
Constatou que, aos olhos da sociedade, os trabalhadores braçais são 'seres invisíveis, sem nome'.
...
Ele trabalhava apenas meio-dia como varredor, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas, mas garante que teve a maior lição de sua vida: “Descobri que um simples BOM DIA, que nunca recebi como varredor, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência”, explica o investigador. Diz que sentiu na pele o que é ser tratado como um objecto e não como um ser humano. “Os meus colegas professores que me abraçavam diariamente nos corredores da Universidade passavam por mim e não me reconheciam por causa da farda que eu usava.”
- O que sentiu, trabalhando como varredor?
Uma profunda angústia.
Uma vez, um dos varredores convidou-me para almoçar no refeitório central. Entrei no Instituto de Psicologia para levantar dinheiro, passei pelo piso térreo, subi as escadas, percorri todo o segundo andar, passei pela biblioteca e pelo centro académico, onde estava muita gente conhecida. Fiz todo esse percurso e ninguém EM ABSOLUTO ME RECONHECEU. Fui inundado de uma indescritível tristeza.
- E depois de um mês a trabalhar como varredor? Isso mudou?
Fui-me habituando a ser ignorado. Quando via um colega professor a aproximar-se de mim, eu até parava de varrer, na esperança de ser reconhecido, mas nem um sequer olhou para mim.
- E quando voltou para casa, para o seu mundo real, o que mudou?
Mudei substancialmente a minha forma de pensar. A partir do momento em que se experiência essa condição social, não se esquece nunca mais. Esta experiência mudou a minha vida, curou a minha doença burguesa, transformou a minha mente. A partir desse dia, nunca mais deixei de cumprimentar um trabalhador. Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe, que é importante, que tem valor.

Aprendi verdadeiramente, com esta experiência, o valor da dignidade.

sábado, 27 de dezembro de 2014

Convite para jantar (entre amigos)

…a minha porta fica em frente ao elevador.
Basta tocares à campainha com o cotovelo que nós abrimos logo.
- Percebi tudo, mas só não compreendo por que é que tenho de carregar nos botões sempre com o cotovelo e de empurrar e puxar portas sempre com o pé?!...
- Amigo Carlos... Não acredito que venhas jantar a minha casa e venhas de mãos vazias!...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Culpados do desastre

As audições parlamentares sobre o colapso do BES já são suficientes para confirmar que esta tragédia podia ter sido evitada
Um dos maiores e mais relevantes bancos da economia portuguesa acabou por ser cobaia de nova legislação europeia, prejudicando directamente milhares de accionistas, obrigacionistas, trabalhadores que vão ser despedidos e empresas que ficaram sem crédito. A maior quota de responsabilidade deste desastre é necessariamente da administração do banco e de Ricardo Salgado, que contaminaram o BES com activos tóxicos do GES e ficaram sujeitos a uma exposição perigosa ao banco de Angola, cujo controlo de gestão perderam. Mas o Banco de Portugal e o Governo também não ficam isentos de culpas.
Armando esteves Pereira, Director-adjunto CM

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

As Moscas

Há dias, pela televisão, conheci o sr. Manuel Agonia.
Creio que a televisão era a SIC, sempre pressurosa e solícita em noticiar episódios que tenham como protagonistas ministros, empresários e afins. O sr. Manuel Agonia, pelo que vi, é um senhor considerável, robusto e, até, um pouco bojudo, que me fez lembrar os desenhos de George Grosz. Faltava-lhe o charuto, no que lhe sobrava de sobranceria. Em posição subalterna, porém muito satisfeito e feliz, caminhavam Pedro Passos Coelho e uma comitiva sorridente. O sr. Agonia, pelo que soube a seguir, é o presidente do conselho de administração do Hospital Senhor do Bonfim, em Vila do Conde, recém-inaugurado. Tudo isto decorre numa nítida perfeição, inclusive os sorrisos, as palmas e os discursos de circunstância. Foi quando a festa se toldou, pois o sr. Agonia, presidente, disse: "É preciso não esquecer que a saúde é um negócio." Caímos na realidade, porque a frase, só na aparência inócua, comporta, no seu bojo, uma doutrina, um projecto e uma alteração social que não devem ser negligenciados. Se queres ter saúde, paga-a. Se não tiveres dinheiro, morre para aí, despejado pela miséria. (Ler mais)
Baptista Bastos, Jornalista

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Prostituição dourada

Em Março de 2012, Paulo Portas anunciava a criação de títulos de residência especiais para cidadãos estrangeiros, oriundos de fora do espaço Schengen, que adquirissem activos imobiliários de valor superior a 750 mil euros em Portugal ou fizessem um investimento com criação de, pelo menos, 30 postos de trabalho. Entre o anúncio e a lei dos vistos dourados aprovada, o investimento necessário diminuiu para 500 mil euros e o número de postos de trabalho a criar para dez, tendo sido acrescentada a possibilidade de transferência/depósito de um milhão de euros.
Em Agosto deste ano, o MNE anunciava "vistos gold já trouxeram para Portugal 817 milhões de euros" nos 1360 vistos atribuídos.
Posteriormente às primeiras (sublinho, primeiras) suspeitas de corrupção vindas a público, que se circunscrevem, por enquanto (sublinho, por enquanto), a altos dirigentes da administração pública, Maria Luís Albuquerque afirmou no Parlamento Europeu que o programa tem sido muito útil a Portugal.
Admito que o programa esteja a ser muito útil para quem vive dos fluxos de capital, como é o caso do conselheiro de Estado Luís Marques Mendes - a sua sociedade de advogados tratou de um terço
dos vistos e parece que também já participa no negócio imobiliário de venda de casas de luxo -, mas para Portugal, não.
O governo não revela o número de postos de trabalho criados com esta iniciativa ou os impostos arrecadados (obviamente, escassos), confundindo, mais uma vez, os proveitos de alguns com o interesse colectivo.
A ideia de um país poder vender os seus títulos de residência é passível de ser discutida, mas deverá ser entendida como uma forma de prostituição. Uma forma de prostituição que nos deve envergonhar sempre que se recusa um visto a quem trabalha pelo país e não tem dinheiro para o pagar. Nos vistos dourados, o Estado vende algo que nos pertence a todos por um valor que só alguns podem pagar, com a particularidade de, no quadro do proxenetismo reinante, não sobrar uma côdea para quem dá o corpo ao manifesto.
Tiago Mota Saraiva,jornal i 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Poema matemático

Um Quociente, apaixonou-se um dia, Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.

Fez da sua uma vida paralela à dela.
Até que se encontraram no Infinito.
 "Quem és tu?" Indagou ele com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas podes chamar-me Hipotenusa."
 E de falarem, descobriram que eram o que, em aritmética, corresponde a alma irmãs primos-entre-si.
 E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação traçando
Ao sabor do momento e da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.
 Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.

Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E, enfim, resolveram casar-se. Constituir um lar.
Mais que um lar. Uma Perpendicular.

Convidaram para padrinhos O Poliedro e a Bissectriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade Integral e diferencial.

E casaram-se e tiveram uma secante e três cones muito engraçadinhos.
E foram felizes até àquele dia em que tudo, afinal, se torna monotonia.

Foi então que surgiu o Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos. Viciosos.

Ofereceu-lhe, a ela, uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.

Ele, Quociente, percebeu que com ela não formava mais Um Todo.
Uma Unidade. Era o Triângulo, chamado amoroso.
E desse problema ela era a fracção Mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade.
E tudo que era espúrio passou a ser Moralidade
Como aliás, em qualquer Sociedade.

  De autor desconhecido.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014