Caros:
O
País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos
E os caracteres corrompidos. A pratica da vida tem por única direcção a
conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não
seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre
os cidadãos. Já se não crê na honestidade dos homens públicos. A classe media
abate-se progressivamente na imbecilidade e inercia. O Povo está na miséria. Os
serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Desprezo pelas
ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta
indiferença de cima para baixo! Todo o viver espiritual, parado. O tédio
invadiu as almas. A mocidade arrasta-se, envelhecida, das mesas das
secretarias, para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce….
O Comercio definha. A industria enfraquece. O salário diminuí, O Estado é
considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A
corrupção, tem desiludido o povo Português por forma a desinteressa-lo de todo
da Politica, em que vê, não a competência dos que melhor podem governar mas
apenas a rivalidade mesquinha de interesses pessoais ou Partidários…
Ao
contrário do que podem pensar, não fui eu que escrevi estas palavras.
Registou-as RAMALHO ORTIGÃO em Junho de 1871.
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