O
atendimento na Estrela era personalizado. Não havia extractos, e as contas eram
tituladas com nomes bizarros de animais ou plantas.
Com
o aproximar da data em que terão de prestar declarações na comissão parlamentar
de inquérito, cresce a fé dos vários ramos da família Espírito Santo. E é
vê-los todos os domingos, às 11h00, na missa que é rezada na capela privada que
se encontra nas traseiras da casa de Ricardo Salgado no Guincho e onde repousam
na cripta os restos mortais de Ricardo Espírito Santo Silva e sua esposa, Mary
Cohen Espírito Santo Silva.
Os
membros mais importantes da família ocupam os lugares da frente, enquanto os
restantes ficam do lado de fora da pequena capela. As orações evocam os antigos
elementos da família e os primeiros investimentos que permitiram o regresso a
Portugal e a compra do BES, como o velhinho empreendimento imobiliário ‘Santa
Ulisseia’, em Miami, nos Estados Unidos da América.
Recordam-se
também os que sempre foram fiéis. Os clientes que, com hora e dia marcado, eram
recebidos na rua de São Bernardo, à Estrela, onde também se reunia o Conselho
Superior do grupo, para mostrar as suas disponibilidades financeiras em troca
de rentabilidades e aumentos de capital sempre lucrativos. O método era sempre
igual. O cliente passava um cheque ao portador com a quantia que queria
investir junto do Grupo Espírito Santo. O dinheiro era levantado das contas
portuguesas e aparecia, como que por magia, na Compagnie Financière Espírito
Santo, agora convertida em Banco Privée Espírito Santo, na Suíça.
Parte
do investimento era aplicado em grandes companhias cotadas nas bolsas
internacionais, com uma preferência especial pelas sociedades francesas, o
restante eram aplicações em sociedades do próprio GES. Não havia nenhuns
extractos bancários, apenas uma simples folha de papel que mostrava ao cliente
o capital acumulado e que era destruída em seguida. As contas estavam todas
tituladas com nomes bizarros de animais ou plantas.
Miguel Alexandre Ganhão, Subchefe de Redacção
- CM
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