Ricardo Araújo
Pereira- Visão
O presidente
venezuelano resolveu antecipar o Natal, para proporcionar uma alegria ao povo;
Passos Coelho decidiu prolongar a Quaresma, para proporcionar uma alegria à
troika
O presidente da Venezuela antecipou o
Natal para Novembro e a notícia foi recebida aqui com uma certa superioridade
gozona. Portugal, que é um pequeno e pobre país africano, às vezes comporta-se
como se pertencesse à Europa rica. Vai uma distância assim tão grande entre as
loucuras do governo venezuelano e as do nosso? Vou buscar a fita métrica e já voltamos
a falar.
O governo da Venezuela é dirigido por
Nicolás Maduro; o governo de Portugal está, ao mesmo tempo, podre e verde. Dos
três estádios de evolução da fruta, calharam-nos os dois que não interessam.
Uns ministros estão a cair de podres, outros estão verdes para o cargo, e Rui
Machete está ambas as coisas: a cada declaração pública, revela ser ao mesmo
tempo inexperiente e ultrapassado. 1-0 para Portugal.
Maduro veste-se com as cores da bandeira
da Venezuela, envergando garrido um fato de treino que o habilita
simultaneamente a governar o país e a treinar o Paços de Ferreira; Paços Coelho
veste-se com as cores da bandeira portuguesa, envergando um pin. É patriotismo
bacoco na mesma, mas ligeiramente mais discreto. A Venezuela empata: 1-1.
Nicolás Maduro vê Hugo Chávez em todo o
lado. Primeiro, ouviu a sua voz no canto de um passarinho, agora viu o seu
rosto numas escavações do metro. Passos Coelho vê a retoma económica em todo o
lado. A economia portuguesa está tão morta como Hugo Chávez, mas tanto o
governo português como o venezuelano garantem que eles ainda vivem. Julgo que é
um empate: 2-2.
Na Venezuela, Maduro pediu ao parlamento
para governar por decreto, isto é, dirigir o país sem precisar do aval da
assembleia. Trata-se, diz ele, de fazer face a um período de guerra económica.
Nenhum dirigente internacional minimamente prestigiado o apoia. Em Portugal,
Passos Coelho quer governar à margem da constituição. O presidente da comissão
europeia, Durão Barroso, concorda com ele. Ou seja, felizmente, também nenhum
dirigente internacional minimamente prestigiado o apoia. Novo empate, que
coloca o resultado num renhido 3-3.
O presidente venezuelano resolveu
antecipar o Natal, para proporcionar uma alegria ao povo; Passos Coelho decidiu
prolongar a Quaresma, para proporcionar uma alegria à troika. Em vez de durar
40 dias, a nossa Quaresma promete durar 40 anos. Os venezuelanos têm dois meses
de cânticos, festas familiares e trocas de presentes; nós temos quatro décadas
de jejuns, penitências e sacrifícios. Portugal recoloca-se em vantagem: 4-3.
Não sei bem de que é que estamos a rir…
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