sábado, 25 de janeiro de 2014

Vai ser preciso chamar o homem!...

Pedro Bidarra, publicitário, psicossociólogo e autor
Uma amiga minha tem um caderninho com números de telefone. Um anacronismo em papel, escrito à mão e ordenado de A a Z. O H está cheio. Todos os homens de que precisa para arranjar a sua vida estão no H: está lá o homem das obras, o homem da electricidade, o homem do telhado (por causa das infiltrações), o homem do jardim, o homem das mudanças, o homem do cabo. Enfim, homens não faltam naquela agenda. À frente de cada um, entre parêntesis, está o nome do homem mas é mais fácil ir ao H do que lembrar o nome de cada um. Quando rebenta alguma coisa a minha amiga lá diz em voz alta, enquanto procura o caderninho, “É preciso chamar o homem!”.
Ouvi nas notícias que a linha azul, para tratar de assuntos relacionados com pensões, deixou de funcionar. Contou-me um médico que no hospital onde trabalha uma máquina de diagnóstico essencial e que tende a avariar com frequência (é da sua natureza complexa) agora não é arranjada porque não se pode chamar o homem. No outro dia soube-se que uma doente com cancro esteve dois anos à espera de uma colonoscopia. Quando o mau tempo e as vagas grandes assolaram a costa, a protecção civil disse que não tinha meios nem condições para avisar as populações e fazer a prevenção. Eu no outro dia chamei os bombeiros porque tinha fogo em casa e fiquei em espera enquanto apagava o fogo e queimava a mão ao fazê-lo; os bombeiros nunca me atenderam. Há muitos maus exemplos destes e haverá muitos mais.
Os bons números que a economia parece querer mostrar foram conseguidos à custa do funcionamento de muita coisa. Até agora sentimos no bolso e fomo-nos adaptando como pudemos; a partir de agora vamos pagar, não em dinheiro mas em qualidade de vida. É esse o próximo ciclo.(Ler artigo complecto) 

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