sábado, 18 de janeiro de 2014

Parvo vem do latim "parvus".

Pedro Bidarra, dinheiro vivo
Parvo vem do latim parvus e significa pequeno. Lembrei-me da etimologia do adjectivo a propósito da iniciativa do pequeno Hugo Soares, o chefe jota da JSD, de propor um referendo à adopção e co-adopção de crianças por casais homossexuais; um assunto do qual sei pouco ou nada e que, até agora, não me dizia respeito. Claro que não me dizendo respeito, a mim a à grande maioria da população, nem estando para ele desperto, no momento em que se fala em referendo tocam campainhas. Fui então ler com atenção a ideia dos pequenos jotas de convocar milhões de eleitores para decidir um problema que afecta, quanto muito, apenas centenas de pessoas.
Sobre o assunto fiquei a saber coisas que não sabia. Fiquei a saber, por exemplo, que no Parlamento, e numa altura em que o Presidente da República apela a consensos, houve um trabalho de meses, com a participação de todos os grupos parlamentares, durante o qual foram ouvidos especialistas e sábios de várias áreas – o assunto é complexo e os deputados foram-se informando, negociando e criando consensos para agendar a votação da lei da co-adopção. Ou seja, durante meses os deputados fizeram o seu trabalho, o trabalho para que foram eleitos e são pagos. Um trabalho que terá sido em vão se o PSD aprovar a ideia do pequeno Hugo Soares. (Consenso é bom, mas só da boca para fora.)
A co-adopção por casais do mesmo sexo é um problema que existe, que provoca sofrimento, que é complexo e cuja resolução envolve o saber e a competência de especialistas. Eu não tenho competência para julgar sobre este assunto. A que propósito me querem convocar para decidir sobre co-adopção? E se eu, que sou psicólogo, e apesar de tudo atento, não entendo, como é que se quer que todos referendem com saber, juízo e presença de espírito uma lei que diz respeito a tão poucos?
A mim parece-me que o pequeno Hugo Soares aproveitou o assunto para se engrandecer, para ser conhecido, para ser falado e, como ainda é pequeno para as coisas grandes, dão-lhe estas causas fracturantes para brincar, para fazer figura, para fazer currículo. Claro que a coisa serve ao PSD, que assim, e dado o apetite dos media pelas causas fracturantes, faz sair do ciclo noticioso coisas como doentes de cancro a morrer porque uma colonoscopia demora dois anos, mais cortes nas pensões e a decadência generalizada do país e das suas infraestruturas.
O que mais me arrepia neste incidente é que este pequeno Hugo Soares, a fazer fé na história recente, será um dia mais um dos nossos pequenos primeiros-ministros.

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