Por; Daniel Bessa-Expresso
A
dúvida maior que, neste momento, paira sobre o nosso país é saber se o Estado
português conseguirá, ou não, solver os seus compromissos de ordem financeira
(pagamento de dívida contraída no passado) no próximo ano. Razões de prudência
costumam exigir um mínimo de um ano de antecedência para se responder
afirmativamente a esta questão e, neste momento, no início de outubro de 2013,
não estamos ainda em condições de o podermos fazer.
Dados
os montantes envolvidos, a solução só poderá ser uma: sermos capazes de
contrair, no mercado, em condições aceitáveis, nomeadamente de taxa de juro, os
financiamentos indispensáveis.
Daí
a importância atribuída à taxa de juro da dívida pública a dez anos, no mercado
secundário, que funciona como principal indicador avançado de dispormos, ou
não, da capacidade de emissão requerida.
Foi
Fernando Teixeira dos Santos quem, um dia, pronunciou o que ficará como uma espécie
de “número mágico”, que hoje nenhum português ignora: acima de 7%, impossível,
teremos de pedir ajuda. Foi assim em 2011.
Não
adianta, agora, perder muito tempo com a história recente desta variável: tendo
chegado a ultrapassar os 20%, caiu, depois, consecutivamente, o que permitiu,
no dia 7 de maio último, a emissão de um montante de 3 milhões de euros de
dívida pública portuguesa a dez anos, à taxa de 5,75%, numa operação sindicada
com seis grandes bancos. A realização desta operação nunca teria sido
suficiente para darmos o problema por resolvido, sendo certo que a situação se
degradou, depois, com a crise política de julho: as taxas voltaram a níveis
superiores aos 7% de que só baixaram, ligeiramente, nos últimos dias.
A
dúvida terá de ficar resolvida muito em breve, seguramente antes do final do
ano. Se a resposta não for satisfatória, restará uma segunda operação de
resgate, como única forma de evitar um incumprimento puro e simples do Estado
português perante os seus credores.
Uma
segunda operação de resgate acelerará a vida política portuguesa: as entidades
financiadoras (Comissão Europeia, BCE e FMI, este, desta vez, com uma
participação mais reduzida) imporão condições, exigirão a assinatura do PS, e
este imporá como condição a realização de eleições antecipadas. O PS parece, neste momento, colocar
todas as suas forças neste cenário. O Governo, pelo contrário, faz tudo para o
evitar: valoriza os dados que apontam para um início de recuperação da
economia, proporá à Assembleia da República um orçamento para 2014 com um
défice de 4% do PIB, espera um desfecho favorável para o exercício de avaliação
que está a ser realizado pela troika.
Numa
corrida que será decidida ao sprint,
o PS leva vantagem: tem a seu favor a incerteza da actuação do Tribunal
Constitucional e a falta de consenso político, num processo em que é não apenas
actor primordial como primeiro (porventura único) interessado. O Governo tem contra
si a crise política que ele próprio provocou, no último verão, e, sobretudo, a
aparente incapacidade de avançar na reforma do Estado.
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