sexta-feira, 2 de março de 2012

Também tu, salário bruto?


O primeiro foi Silva Lopes: ou se descem salários ou teremos fábricas de desempregados. Depois foi Vítor Bento: a redução dos custos salariais é a ferramenta disponível. Veio a troika e impôs: desvalorização interna.

Paul Krugman quantifica: menos 30% face à Alemanha. E muitos economistas, pensando o mesmo, não o dizem por medo de impopularidade. Porque a resposta ouvida é: mas nós já cortámos os salários!

Há um fosso entre a catatonia dos economistas e a cacofonia dos assalariados. Os economistas estão a falar dos custos salariais das empresas, ou, de forma prosaica, dos ordenados brutos e Segurança Social; os assalariados estão a falar dos ordenados líquidos. As empresas estão a pagar quase o mesmo, os trabalhadores estão a receber muito menos. A diferença, é claro, leva-a o Estado: é o aumento de impostos.

Desvalorizar a moeda, não dá (a Islândia, com moeda própria, fez num ápice o que nos vai demorar anos). Desvalorização fiscal, não dá (a descida da taxa social única foi suspensa). Desvalorização real, não dá (ao contrário dos anos 80, a inflação não é suficiente para criar ilusionismo). Desvalorização dos demais custos de produção, dificilmente dá (custos financeiros, energéticos, das matérias-primas são formados em mercado internacional). É por isso que os economistas sucumbem aos custos salariais: é o que
dá. Dá? Dá, dá. Tem dado.

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