(Cópia de artigo
no Diário Económico por João Paulo Guerra)
Há dois aspectos em que a situação
política no País nos dias que correm se assemelha perigosamente ao que se
passava em Portugal no prenúncio da ditadura.
Um deles é a sofreguidão do patronato que
já tem tudo mas quer sempre mais alguma coisa. Outra é a pesporrência da
Polícia. Ainda ontem os jornais davam conta da insatisfação dos patrões com as
novas leis laborais. Ao mesmo tempo, um relatório da PSP expunha a estratégia
para combater as "notícias menos positivas".
Nos anos 20 do século passado, a
Confederação Patronal e a União dos Trabalhadores extremaram posições em
relação às lutas e direitos das classes trabalhadoras, esticando a corda até
que a tropa veio por aí abaixo pôr ordem no caos reinante. O que mais
incomodava as associações patronais eram as greves, chegando alguns patrões a
propor o recurso a actos de terrorismo para acabar de vez com o direito à
greve.
Hoje, com as novas leis laborais, o
patronato vai despedir a seu bel-prazer e barato, vai pagar as horas
extraordinárias por metade. Mas quer mais. Quer acabar com aquilo que um
aparelhista da JSD designa por "ditadura dos direitos adquiridos". Os
trabalhadores resistem, fazem greve, desfilam em manifestações e cai-lhes a
Policia em cima. Ao mesmo tempo, e depois de um conhecido gestor preconizar uma
"informação filtrada", "a bem da Nação", a Policia vem
dizer que considera sua atribuição estabelecer uma estratégia para combater
"as notícias menos positivas". Mas as atribuições da Polícia estão na
Constituição da República e não contemplam nada que se pareça com o combate a
notícias menos positivas, vulgo Censura.
Parece que há quem queira repetir a
história. Talvez para acabar com a ditadura... da democracia.
Joaopaulo.guerra@economico.pt
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