sábado, 3 de março de 2012

O ministro do pastel...de nada!


D.N. Opinião por Nuno Saraiva
Álvaro Santos Pereira parece, cada vez mais, um deserdado de Pedro Passos Coelho. Incapaz de aproveitar o balão de oxigénio que a assinatura do Acordo de Concertação Social lhe proporcionou, vai perdendo peso e influência, espaço e tutelas, e continua a ser, apesar de com Silva Peneda ser protagonista da maior vitória política deste Governo, um alvo de todas as críticas, dentro e fora do Executivo.

Politicamente inábil e inexperiente, e, manifestamente, um desastre em matéria de comunicação, o titular da Economia e do Emprego - assim se chama o ministério - veio de Vancôver, no Canadá, onde estava emigrado há mais de dez anos, com a aura sebastiânica de salvador da economia portuguesa, ancorado no rótulo de superministro que haveria de cuidar também das obras públicas, dos transportes, da inovação, da energia e sabe-se lá mais do quê. Álvaro, como a certa altura - quem sabe num assomo de ingenuidade - disse preferir que o tratassem, vai aos poucos sendo vítima do afã de um primeiro-ministro que se empenhou desde o princípio em apresentar-se como alguém capaz de reduzir ao mínimo indispensável o elenco governativo.

A verdade é que, ao longo destes meses, o número de ministros não aumentou, o de secretários de Estado também não, mas a máquina foi engordando através da criação de grupos de trabalho e de comissões que se substituem aos ministérios. Foi assim com o futebol e os seus três grupos de trabalho sob tutela de Miguel Relvas, o futuro do serviço público de rádio e televisão sob a mesma batuta. Mas também a comissão para o acompanhamento das privatizações entregue a António Borges, o grupo de trabalho para o combate ao desemprego entre os jovens liderado por Miguel Relvas, ou aquilo que pode vir a ser uma nova comissão interministerial para a gestão das verbas do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) sob a vigilância apertada do ministro das Finanças, Vítor Gaspar.

O facto é que, nestes últimos ajustamentos, quem ficou a perder do ponto de vista da percepção pública - e em política a percepção conta que se farta - foi sempre Álvaro Santos Pereira, que se tem visto progressivamente esvaziado de poderes e competências. Aos olhos dos cidadãos, mas também dos seus pares no Governo, o ministro que sugeriu ingenuamente a internacionalização dos pastéis de nata - porque não dos ovos moles de Aveiro, da alheira de Mirandela ou do cozido à portuguesa - e que agora está empenhado em criar a figura do "gestor de carreira" para essa "profissão de futuro" que é a de desempregado, está cada vez mais fragilizado. Até porque a obra que tem para mostrar neste momento é a de uma taxa de desemprego sem precedentes em Portugal e um número cada vez maior de empresas a fecharem no País. Até por isto seria bom que falasse menos e fizesse mais ou, pelo menos, que pensasse bem antes de abrir a boca.

Destas mudanças resulta que o ministro que parecia ter saído reforçado das negociações tripartidas com patrões e sindicatos estará afinal condenado a ser remodelado ou, pelo menos, a ficar com a tutela de uma mão cheia de nada.

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