quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Regresso ao passado


por: Fernando Sobral (j. negócios)

 Em Portugal a história não se repete como farsa. Repete-se como um filme de zombies. Por aqui os zombies não emergem das tumbas. Caminham directamente dos partidos para os lugares que o Estado tem para distribuir ou que aconselha com a sua mão visível. Seria um bom argumento para uma série americana de televisão se tudo não se passasse neste rectângulo à beira-mar especado. Regressámos rapidamente a um tempo que julgávamos ter sido varrido para o lixo devido à inclemência da crise.·
Exceptuando dois ou três casos onde é evidente a competência dos escolhidos, a maioria das opções na EDP e nas Águas de Portugal era evitável. Não aprendemos nada. Na Coreia do Norte, Kim Jong-Il vai ser embalsamado. Em Portugal continua a embalsamar-se a partidarização do regime. Não é inédito mas era evitável. A ética sucumbiu à gula. Regressaram os soldados da fortuna. A autoridade moral que Pedro Passos Coelho queria trazer para a política portuguesa queimou-se como um fusível: com os dedos na EDP e os pés nas Águas de Portugal não há corpo nem Governo que aguente o choque.·
A questão aqui é, como no caso da Jerónimo Martins, de sinal. Dá-se o sinal errado à sociedade e aos portugueses que vão tentar sobreviver com mais impostos, com mais aumentos e com mais desemprego, como lembrou o Banco de Portugal. Talvez até o paciente perecer da sangria. Mas a ideia agora transmitida pelo Governo é a de que a recessão é só para alguns. Estamos condenados a repetir o passado se não o lembrarmos. E os casos recentes atiram-nos novamente para o mundo secreto que julgávamos ter-se esgotado nas últimas eleições. 

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