sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O "paladino" de quem?

Um reformado chamado Cavaco Silva
Cavaco Silva é um daqueles maus actores que assim que saem do papel que está escrito já não sabem o que dizer. Não sabe o que dizer na hora e – pior – não sabe o que dizer quando precisa de emendar o que foi dito. Se a sua capacidade de improviso é uma lástima, o seu talento para o arrependimento é uma tragédia. Recordemos o famoso caso das escutas de Belém: a explicação que ele deu numa inesquecível comunicação ao país conseguiu ainda ser pior do que a teoria da conspiração em si.
Assim sendo, o desastre das suas declarações em relação à sua pobre reforma que nem sequer lhe permite pagar as contas (quais contas, aliás? a electricidade do Palácio de Belém?) não é propriamente surpreendente. O que não tem faltado ao longo do seu percurso político são gaffes. A única novidade aqui é que ele ofendeu toda uma classe média e uma classe baixa da qual gosta muito de se armar em paladino. O provedor dos pobres, afinal, tiveram uma tirada de rico insensível – e foi isso que tocou fundo no sentimento de toda a gente.
Nesse sentido, diria que há males que vêm por bem. Pode ser que as pessoas comecem a olhar para Cavaco não como o Presidente equilibrado e equidistante que ele finge ser mas como o político incompetente que tem sido. Durante anos e anos, Cavaco foi como um pai que ficou a ver o seu filho aproximar-se de um poço, alertando a espaços "olha que vais cair, olha que vais cair". Quando o filho finalmente caiu no poço, abriu os braços e disse "eu bem avisei", só que na verdade nunca levantou o rabo da cadeira para fazer o que se impunha. Cavaco merece cada cêntimo da sua reforma. Há muito que deixou de trabalhar.
O Cronista Indelicado (João Miguel Tavares)

Sem comentários:

Enviar um comentário