Os feriados amam-se ou odeiam-se. Mas ninguém deixa de os praticar. Nenhum republicano deixou de comemorar o 1.º de Dezembro. Nenhum monárquico ou católico que nunca esqueceu a I República ia trabalhar no 5 de Outubro. Os ateus não deixavam de folgar no Corpo de Deus. Há um contrato social nacional sobre o tema.
Os feriados funcionam como bolsas de oxigénio da sociedade e como uma memória da civilização. Podem ser muitos ou poucos, consoante o país ou as necessidades do momento. O Governo acha que são demasiados. As empresas também. Talvez sejam. Mas suprimi-los, se é uma necessidade económica nacional, requer uma explicação plausível. Coisa que não se encontra nas palavras do ministro Álvaro Santos Pereira. Disse ele que, como a Igreja defendeu a paridade da eliminação de feriados civis e religiosos, o Governo "aceitou a condição que a própria Igreja nos disse".
Julgava-se, até quinta-feira, que apesar da religiosidade do povo português, o País era um estado laico. Segundo o ministro, a Igreja impõe as regras ao Estado. Álvaro Santos Pereira abre assim as portas a que qualquer instituição ou grupo de pressão imponha as regras ao Estado português. Ou seja, Álvaro Santos Pereira demitiu-se na quinta-feira de ser ministro. É simplesmente o secretário do protocolo. Os outros dizem e ele, obediente, executa. Chegamos à mais triste das conclusões. Álvaro Santos Pereira é um feriado. Como ministro e como pensador. Os outros pensam e decidem por ele. Sendo um feriado, Santos Pereira escusa de continuar a ser ministro. Tal como o 5 de Outubro ou o 1.º de Dezembro, pode ser descontinuado.
Artigo de: Fernando Sobral (J.Negócios)
Sem comentários:
Enviar um comentário