sábado, 15 de fevereiro de 2014

Uma sucessão de sucessos mal sucedidos

O parlamento é um local de combate, mas é preciso deixar ouvir os combatentes, já se viu na necessidade de lhes lembrar, tal era a barulheira
A senhora presidente da Assembleia da República, jovem reformada na vida activa - terá conseguido a reforma do Tribunal Constitucional aos 42 anos - encomendou um estudo sobre as regras de acesso a outros parlamentos europeus pois, dada a cada vez mais frequente interrupção dos trabalhos parlamentares por manifestações nas galerias da Assembleia, entendeu ser chegada a hora de restringir as condições de acesso ao local. E com esta visionária iniciativa a senhora conseguiu pôr meio mundo contra.
Ao que parece, do tal estudo ficou a saber-se que, nesta matéria, Portugal é dos países mais permissivos à participação dos cidadãos e mais severo na aplicação de sanções por desrespeito das normas estabelecidas. Uma coisa compensa a outra, dir-se-ia. Assunção Esteves, porém, preferia fechar a porta de vez e fazer sessões sem sobressaltos de povo. Dentro de portas já lhe bastam as cenas e os chistes dos deputados. O parlamento é um local de combate, mas é preciso deixar ouvir os combatentes, já se viu na necessidade de lhes lembrar, tal era a barulheira. Nada, todavia, que a fizesse tirar do sério como os protestos nas galerias: "Não podemos deixar, como dizia a Simone de Beauvoir, que os nossos carrascos nos criem maus costumes." A citação, talvez espúria, não podia ter sido mais infeliz. Críticas contundentes não se fizeram esperar. A presidente da AR vai por caminhos ínvios, e mesmo quando confessa o seu medo, mormente, pelo "inconseguimento de eu estar num centro de decisão fundamental a que possa corresponder uma espécie de nível social frustacional derivado da crise", poucos são os que a dizem compreender. A ver vamos no que isto vai dar.
Maria Helena Magalhães, jornal i

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