segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Milagre

O limiar de sustentabilidade da dívida pública de um país anda nos 60% do seu PIB. Como a dívida portuguesa vai nos 130% e não há forma de, nos próximos anos, o Estado ter superávites orçamentais, continuaremos a pedir emprestado para pagar as nossas despesas. Resultado, a dívida pública portuguesa é cada vez maior e menos pagável. Alheados disto, o governo e a doce oposição discutem a melhor forma de tirar a troika daqui para fora. Já se sabe que no dia 13 de Maio, este agrupamento de malfeitores vai a Fátima rezar pela expiação dos seus pecados e que, depois de fazerem as malas durante o fim-de-semana, deixam Lisboa no dia 17.
Mas enquanto uns se excitam com a possibilidade de uma saída limpa (quer dizer, sem o humilhante aval dos nossos parceiros europeus), outros preferem a saída suja (quer dizer, com o reconfortante aval dos nossos parceiros europeus). Mas esta discussão é a mesma coisa que importunar um doente em estado crítico, para saber se ele vai pagar os seus tratamentos com dinheiro ou multibanco (o que o homem quer saber é como se cura da sua maleita). O que nos acontecerá quando a dívida pública atingir os 135, 140, 150% do PIB? Se sairmos de uma forma limpa, quem é o credor que daqui a um ou dois anos nos continuará a emprestar dinheiro? E se sairmos da forma suja, até quando vão os senhores da Europa garantir-nos o seu aval? É certo que hoje Portugal beneficia de uma imprensa internacional favorável, que nos distingue até como um milagre económico. Mas, de facto, a nossa condição económica e financeira é muito pior do que há dois ou três anos atrás (mais défice, mais dívida, mais desemprego, menos PIB). Em Portugal, não há nenhum milagre económico. Há é um buraco cada vez maior e bem à nossa frente. Milagre era saber como o vamos pagar
José Diogo Madeira, jornal i

Sem comentários:

Enviar um comentário