sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Uma admiradora do Prof. Marcelo...

Uma admiradora do Prof. Marcelo escreve-lhe uma carta aberta (lamento não se indicar o nome da autora)
Domingo, 17 de Fevereiro de 2013
Marcelo,
Eu sempre te admirei.
Eu sou aquela que quando te vê na Livraria Galileu fica embevecida, orgulhosa de ser cascalense, que te admira a forma como cumprimentas os transeuntes e folheias os livros usados com o mesmo cuidado que fazes com os novinhos em folha.
Sou aquela que sintoniza a TVI todos os domingos só para te ouvir. Que leva com a Judite de Sousa sem pestanejar só para te poder ouvir. Que pede silêncio se a sala de estar estiver cheia de gente para não perder pitada do que dizes.
Sou aquela que, na quarta-feira passada, ao avistar-te na FIARTIL, te defendeu com unhas e dentes junto a uma amiga que não te aprecia o estilo.
Sou isso tudo, Marcelo.
E hoje tu atreves-te a defender o Relvas no teu comentário semanal?
Assim, com a maior cara de pau? À cara podre?
Dizes tu: que o Relvas é diferente do Sócrates. Que o Relvas tirou direitinho 4 cadeiras enquanto que ninguém sabe em que circunstâncias é que o Sócrates concluiu as suas cadeiras. Que há imensas personalidades que não têm licenciatura e que depois, até a título de honoris causa, lhes são atribuídos títulos académicos.
Mas, Marcelo, TU ESTÁS BOM DA CABEÇA, HOMEM?
Deixa-me explicar-te como se eu fosse o Professor e tu a grávida desmemoriada:
O Lula da Silva foi Presidente da República do Brasil. Não tem curso nem nunca se apresentou como Dr. Não tem nenhum diploma pendurado no gabinete nem nunca fez ninguém acreditar na sua competência académica.
As pessoas não lhe deixam de reconhecer mérito, especialmente, porque o Lula nunca quis ser o que não era e sempre assumiu quem era, o que era e o que poderia fazer com os recursos que tinha ao seu dispor. Que não os académicos.
O Comendador Nabais não tem licenciatura e é um dos mais brilhantes gestores do país. Nunca ninguém se dirige a ele através do título "Dr.Nabais".
O próprio Champalimaud- o velho- não tinha nenhuma licenciatura e conta-se que, certo dia, um dos funcionários responsáveis por mandar fazer os seus cartões-de-visita lhe perguntou o que ele queria que colocasse por debaixo do seu nome. Champalimaud respondeu, sem hesitar: "Dono". Não colocou Dr. ou Licenciado pela Universidade da Vida.
Nenhum destes senhores quis ser quem não era. Nenhum aspirou a um título académico e o conseguiu de forma menos transparente.
A grande questão, Marcelo, é que ao Relvas saiu-lhe uma licenciatura na farinha Amparo. E, estou crente, que, a partir de agora, a Universidade Lusófona é capaz de receber dezenas de pedidos de equivalências a licenciatura por mérito curricular. Até eu estou a pensar pedir avaliação do meu currículo profissional e sacar uma licenciatura em Gestão de Recursos Humanos, uma vez que a minha experiência nesta área é muito mais vasta que a do Relvas em qualquer área.
O Relvas, Marcelo, foi da JSD e isso não é profissão. É saber engraxar os grandes do partido, colar selos em cartas para se enviar para os militantes, segurar bandeirinhas nos comícios e ir buscar militantes não letrados aos bairros sociais limítrofes e pedir-lhe que, nos dias e eleições do partido, metam a cruz nas suas listas. E é bater palmas e fazer barulho quando o PSD ganha qualquer coisa. E não negues porque I've been there. E isso não faz de mim uma iluminada com potencial para sacar uma licenciatura em Anatomia Patológica Citológica e Tanatológica por equivalência.
Se avançarmos no percurso profissional do Ministro pós experiência na JSD o que vemos é um conjunto de tachos, cuja legitimidade dos processos de recrutamento e selecção fariam rir qualquer auditor da norma ISO 9001: 2008 e, mais ainda, na NP 4427:2004. Mas claro, cargos políticos estão dispensados de normas de qualidade, já me esquecia.
O Relvas até podia não ter licenciatura que, quanto a mim tanto me fazia. O que o Relvas não podia era armar-se em chico esperto e decidir ser Dr. (ou, se se lembrar da equivalência com o Pós-Bolonha, já pode ser mestre, às páginas tantas) sem ir à Universidade.
Da mesma forma que eu nunca pude ser ninguém na secção do PSD, da qual fui militante, sem lamber as botas aos grandes, sem ir bater palmas em todas as reuniões de freguesia, sem ir dobrar circulares a pedir votos numa determinada lista e enviar centenas de cartas dentro de envelopes, sem servir de motorista e apanhar residentes analfabetos em bairros sociais instruindo-lhes onde meter a cruz nas concelhias, sem prometer aos novos militantes, angariados a todo o custo, bilhetes para os filhos irem ao Optimus Alive em troca de mais votos, e afins.
No fundo, cada um é para o que nasce.
Eu assumo que nunca conseguiria ter carreira como política. Ele que assuma que não é, legitimamente, licenciado.
E tu, Marcelo, não me lixes!
Que enervar uma prenha é coisa para te dar uma diarreia. Ou, se pedires equivalência, uma catedrática gastroenterite. Coisa mais fina, enfim. Mais lusófona.

2 comentários:

  1. Pergunto-me o que terá para dizer o nosso sapiente professor, acerca do governo, esta semana...

    ResponderEliminar
  2. De um prof. tão "sabido", é sempre difícil de "adivinhar" o que vem a seguir!

    ResponderEliminar