sábado, 14 de dezembro de 2013

Vencer o medo.


Paulo Morais, professor universitário
O poder político baixa salários e pensões, ameaçando com um novo resgate ao estado português.
O medo. Tomou conta da sociedade portuguesa, domina a vida de todos nós. Os desempregados vivem com o medo de quem não tem perspetiva de vida futura. Os que ainda mantêm o emprego, com medo de o perder. Muitos deles, angustiados perante a possibilidade de chegar ao fim do mês e de não receberem o dinheiro de que necessitam para sobreviver. Receosos de perder o carro cuja prestação não podem pagar, vivem ainda o pânico de ficar sem casa, pois não conseguem assumir as responsabilidades decorrentes da hipoteca.
Os reformados temem pela vida dos filhos desempregados, a quem já não podem acudir porque lhes baixaram os rendimentos. Casais desempregados, tomados pela depressão, entram pelos caminhos da violência doméstica, arruínam uma vida que tanto lhes custou a construir e vivem no pavor de perder o contacto com os filhos.
Há até receio de conversar. As pessoas sussurram nos cafés o que não têm coragem de proclamar em voz alta. Em muitas repartições públicas impera a "lei da rolha", as pessoas estão impedidas de falar e até de pensar, sob pena de sofrerem represálias. Também a vida empresarial é dominada pelo medo. Os pequenos e médios empresários, exauridos com tantas dificuldades decorrentes da recessão e da carga fiscal, sabem que para sobreviver dependem dos subsídios, dos pagamentos do estado, dos créditos bonificados que nunca chegam. Estão reféns dos mangas-de-alpaca da administração pública, deles dependendo a sobrevivência das suas empresas. Uma sociedade onde impera o medo está vulnerável a todo o tipo de demagogia.
O poder político toma medidas coatando a população: baixa salários e pensões, ameaçando com um novo resgate ao estado português; aumenta impostos de forma arbitrária e inconsequente. E chantageia, coage, tentando convencer a opinião pública que a alternativa a este poder seria o caos. Replica em democracia os piores tiques dos ditadores. Não é possível edificar uma verdadeira democracia com uma multidão de mulheres e homens prisioneiros do medo.
Só quando um povo vence o medo, o regime teme pelo seu futuro. E só então se regeneram e implementam as políticas que verdadeiramente respeitem a vontade popular.

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