quarta-feira, 4 de julho de 2012

"Artigo muito oportuno"


3,96 euros - artigo do Jornalista Fernando Sobral

Arthur Conan Doyle incorporou na personalidade de Sherlock Holmes muitas das características de raciocínio dedutivo que eram a base do diagnóstico médico do século XIX. Por isso Holmes podia dizer: "Tenho como velha máxima que quando se exclui o impossível, o que sobra, mesmo improvável, deve ser a verdade".

Holmes teria uma apoplexia se escutasse os argumentos do presidente da administração da ARS de Lisboa sobre a razão para se contratar enfermeiros a 3,96 euros à hora. Diz o senhor que pagar o mais baixo possível é defender o contribuinte. O seu oco raciocínio parece o de um merceeiro das "Novas Oportunidades". Esquece-se que a sua missão não é defender os contribuintes contra os pacientes. Não há diferença: os contribuintes são os pacientes que querem ser tratados com seriedade.

A argumentação do presidente da ARS de Lisboa e o silêncio cúmplice do ministro da Saúde mostram que já não vivemos no mundo da austeridade. Estamos a sobreviver no universo da pouca-vergonha. Esta não é a fase do menos Estado. É a do Estado inexistente. A enfermagem é uma profissão da qual depende a saúde dos portugueses. A sua responsabilidade é enorme. Não há saúde séria com enfermeiros que se contratam num mercado de servos da gleba. E é isso que Paulo Macedo está a permitir. Não é o preço, é a responsabilidade. Há sectores de actividade na sociedade portuguesa onde se tem de pagar a qualidade e a responsabilidade. De outra forma estamos já no Terceiro Mundo.

O Estado está a dar um belo exemplo à sociedade. Paulo Macedo está a tornar a dissolução da saúde a nova lei da República. Desculpem a dúvida: ainda há Ministério da Saúde?

Sem comentários:

Enviar um comentário