terça-feira, 3 de abril de 2012

"Coisas de (des)Governo"?








A mão liberal-por; Fernando  Sobral - fsobral@negocios.pt

Os governos lançados, às vezes, na batalha das ideias e nas purgas financeiras, acabam como comediantes das suas sinceridades. Este Governo surgiu como uma ópera liberal, num libreto talvez escrito por António Borges. Criar um Estado menor e tornar a iniciativa privada as locomotivas do novo Portugal era uma imagem simpática.·
A generosa franqueza governamental está à vista. Este Governo parece tão fascinado pelo materialismo dialéctico como os seus antecessores. Afinal, numa versão muito marxista da ideologia liberal, o Governo parece acreditar que tanto modela o Estado como é modelado por ele. Este Governo, julgava-se, era contra a mão visível do Estado e promovia a mão invisível do mercado. Ao chegar ao poder as suas ideias entraram em curto-circuito: tornou-se defensor da mão invisível do Estado.·
A questão já nem é shakespeariana: se é ou não é liberal ou se parece sem o ser. A forma como o Governo impôs à CGD a venda das acções desta na Cimpor à Camargo Corrêa ilustra o liberalismo do Governo. Manda quem tem o poder. Entre o dinheiro rápido e os centros de decisão nacionais, o Governo impõe a lei do Estado. Mesmo que a Cimpor impluda. Como acção liberal recomenda-se o regresso do executivo à escola para reler Adam Smith. A questão não é ociosa: é de princípio. Nem é de ideologia, porque o PSD tem uns dias que é liberal, outras social-democrata e sobretudo vive à sombra da bananeira do Estado. Com esta acção a CGD voltou a ser o braço armado do Estado, isto é, do Governo. Nada de novo a norte de Marraquexe. Pode alguém ser quem não é? O Governo está a tentar provar que tal é uma missão impossível.

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