Paulo
Morais, professor universitário
O
poder político baixa salários e pensões, ameaçando com um novo resgate ao
estado português.
O
medo. Tomou conta da sociedade portuguesa, domina a vida de todos nós. Os
desempregados vivem com o medo de quem não tem perspetiva de vida futura. Os
que ainda mantêm o emprego, com medo de o perder. Muitos deles, angustiados
perante a possibilidade de chegar ao fim do mês e de não receberem o dinheiro
de que necessitam para sobreviver. Receosos de perder o carro cuja prestação
não podem pagar, vivem ainda o pânico de ficar sem casa, pois não conseguem
assumir as responsabilidades decorrentes da hipoteca.
Os
reformados temem pela vida dos filhos desempregados, a quem já não podem acudir
porque lhes baixaram os rendimentos. Casais desempregados, tomados pela
depressão, entram pelos caminhos da violência doméstica, arruínam uma vida que
tanto lhes custou a construir e vivem no pavor de perder o contacto com os
filhos.
Há
até receio de conversar. As pessoas sussurram nos cafés o que não têm coragem
de proclamar em voz alta. Em muitas repartições públicas impera a "lei da
rolha", as pessoas estão impedidas de falar e até de pensar, sob pena de
sofrerem represálias. Também a vida empresarial é dominada pelo medo. Os
pequenos e médios empresários, exauridos com tantas dificuldades decorrentes da
recessão e da carga fiscal, sabem que para sobreviver dependem dos subsídios,
dos pagamentos do estado, dos créditos bonificados que nunca chegam. Estão
reféns dos mangas-de-alpaca da administração pública, deles dependendo a
sobrevivência das suas empresas. Uma sociedade onde impera o medo está
vulnerável a todo o tipo de demagogia.
O
poder político toma medidas coatando a população: baixa salários e pensões,
ameaçando com um novo resgate ao estado português; aumenta impostos de forma
arbitrária e inconsequente. E chantageia, coage, tentando convencer a opinião
pública que a alternativa a este poder seria o caos. Replica em democracia os
piores tiques dos ditadores. Não é possível edificar uma verdadeira democracia
com uma multidão de mulheres e homens prisioneiros do medo.
Só
quando um povo vence o medo, o regime teme pelo seu futuro. E só então se
regeneram e implementam as políticas que verdadeiramente respeitem a vontade
popular.
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