José
Diogo Madeira, jornal i
Nunca
como agora partilhámos tanto. Ideias, fotos, vídeos, tudo é partilhado em massa
através das redes sociais que por aí pululam. São trocas simples, à distância
de um clique, mas que criam tendências, propagam músicas e novidades, contam a
nossa vida a quem passa pela net. Se gostas disto, partilhas. Se queres mostrar
aquilo, partilhas. É uma cultura de partilhas, tudo o que vem à rede é
rapidamente partilhado para construir o mundo como gostamos de o imaginar. Mas
quando desligamos os portáteis e saímos à rua vemos um país desequilibrado, em
que crescem as vendas de automóveis de luxo e o número de gente que dorme pelas
calçadas.
As
desigualdades económicas e sociais tornaram-se bem evidentes e aqui não se fala
de partilha, mas de sobrevivência. Quem tem não quer perder; quem já não tem já
nada quer. É uma sociedade deslumbrada pela forma fácil como tudo se move
rapidamente pelas redes digitais, mas que cava trincheiras profundas no
terreno. E não se pode esperar que os portugueses consertem o país da mesma
forma ligeira como partilham pelo Facebook.
Portugal
é um país de gente solidária, em que os remediados vão dando o pouco que lhes
sobra aos pobres. Mas estas pequenas e generosas partilhas não conseguem
retirar da pobreza os milhares que nos últimos anos caíram nela e não conseguem
refazer as suas vidas. Portugal precisa de dar empregos a quem precisa, um
tecto a quem está nas ruas, um futuro às crianças que estão na escola e uma
reforma digna a quem já não trabalha. Claro que este investimento custa
dinheiro e alguns dirão que agora não há financiamento para isto. Mas quando há
vontade e bons projectos o dinheiro aparece sempre. Basta tirar de uns lados
para colocar nos outros. Ou seja, fazer a gestão política dos recursos (por
escassos que sejam), colocando-os onde fazem mais falta. Partilhar também é
isto.
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