O
parlamento é um local de combate, mas é preciso deixar ouvir os combatentes, já
se viu na necessidade de lhes lembrar, tal era a barulheira
A
senhora presidente da Assembleia da República, jovem reformada na vida activa -
terá conseguido a reforma do Tribunal Constitucional aos 42 anos - encomendou
um estudo sobre as regras de acesso a outros parlamentos europeus pois, dada a
cada vez mais frequente interrupção dos trabalhos parlamentares por
manifestações nas galerias da Assembleia, entendeu ser chegada a hora de
restringir as condições de acesso ao local. E com esta visionária iniciativa a
senhora conseguiu pôr meio mundo contra.
Ao
que parece, do tal estudo ficou a saber-se que, nesta matéria, Portugal é dos
países mais permissivos à participação dos cidadãos e mais severo na aplicação
de sanções por desrespeito das normas estabelecidas. Uma coisa compensa a
outra, dir-se-ia. Assunção Esteves, porém, preferia fechar a porta de vez e
fazer sessões sem sobressaltos de povo. Dentro de portas já lhe bastam as cenas
e os chistes dos deputados. O parlamento é um local de combate, mas é preciso
deixar ouvir os combatentes, já se viu na necessidade de lhes lembrar, tal era
a barulheira. Nada, todavia, que a fizesse tirar do sério como os protestos nas
galerias: "Não podemos deixar, como dizia a Simone de Beauvoir, que os
nossos carrascos nos criem maus costumes." A citação, talvez espúria, não
podia ter sido mais infeliz. Críticas contundentes não se fizeram esperar. A
presidente da AR vai por caminhos ínvios, e mesmo quando confessa o seu medo,
mormente, pelo "inconseguimento de eu estar num centro de decisão
fundamental a que possa corresponder uma espécie de nível social frustacional
derivado da crise", poucos são os que a dizem compreender. A ver vamos no
que isto vai dar.
Maria
Helena Magalhães, jornal i
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