Ir
de Lisboa à Beira (a Baixa) por via-férrea era outrora uma viagem deslumbrante:
vale do Tejo, Constança, Portas do Ródão, Castelo de Almourol, paisagens
desfrutadas de comboio, em compartimentos de patine e afago.
Ir
de Lisboa à Beira Baixa por via-férrea, hoje, tornou-se penoso e, para quem
parte da Gare do Oriente, tenebroso, a estação a revelar-se um desarvorado
ataque à saúde de quem, sobretudo no Inverno, a utiliza.
Carrossel
de frio, de chuva, de correntes de ar, de correntes de vento, revela, na sua gongórica
arquitectura inumana, total desprezo pela dignidade dos que a utilizam.
Não
há por certo construção pública entre nós tão geradora de desabrigos e
incómodos como a dita gare, cujos responsáveis (da sua aprovação e negócio)
deviam ser questionados.
Ir
de Lisboa à Beira Baixa por via--férrea fez-se deslocação espinoteante em
composições a fingirem de modernas, sem conforto, sem insonorização, sem
climatização, sem bar (apenas uma ínfima máquina de cafés e chocolates), sem
charme nem identidade – comboios de pindéricas linhas suburbanas, não (como
foram no passado) de aprazíveis linhas nacionais.
Como
foi possível fazer tal desconsideração às gentes de Castelo Branco, Alpedrinha,
Fundão, Covilhã? Zonas de vultos como, entre outros, António Ramalho Eanes,
Vergílio Ferreira, Eugénio de Andrade, Eduardo Lourenço, Robles Monteiro, Maria
Lalande, Cargaleiro, António Paulouro, Vasco Lourenço, António Guterres, José
Sócrates.
Tudo
estão a tirar às Beiras: jovens, transportes, escolas, correios, freguesias,
memórias, tribunais, hospitais, jornais – jornais que acabam de revelar terem
as auto-estradas da região perdido 40 por cento de tráfego e a CP 47 milhões
(em quatro anos) de passageiros. Admiram-se?
Fernando
Dacosta, jornal i
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