Pedro
Bidarra, publicitário, psicossociólogo e autor
Uma
amiga minha tem um caderninho com números de telefone. Um anacronismo em papel,
escrito à mão e ordenado de A a Z. O H está cheio. Todos os homens de que
precisa para arranjar a sua vida estão no H: está lá o homem das obras, o homem
da electricidade, o homem do telhado (por causa das infiltrações), o homem do
jardim, o homem das mudanças, o homem do cabo. Enfim, homens não faltam naquela
agenda. À frente de cada um, entre parêntesis, está o nome do homem mas é mais
fácil ir ao H do que lembrar o nome de cada um. Quando rebenta alguma coisa a
minha amiga lá diz em voz alta, enquanto procura o caderninho, “É preciso
chamar o homem!”.
Ouvi
nas notícias que a linha azul, para tratar de assuntos relacionados com pensões,
deixou de funcionar. Contou-me um médico que no hospital onde trabalha uma
máquina de diagnóstico essencial e que tende a avariar com frequência (é da sua
natureza complexa) agora não é arranjada porque não se pode chamar o homem. No
outro dia soube-se que uma doente com cancro esteve dois anos à espera de uma
colonoscopia. Quando o mau tempo e as vagas grandes assolaram a costa, a
protecção civil disse que não tinha meios nem condições para avisar as
populações e fazer a prevenção. Eu no outro dia chamei os bombeiros porque
tinha fogo em casa e fiquei em espera enquanto apagava o fogo e queimava a mão
ao fazê-lo; os bombeiros nunca me atenderam. Há muitos maus exemplos destes e
haverá muitos mais.
Os
bons números que a economia parece querer mostrar foram conseguidos à custa do
funcionamento de muita coisa. Até agora sentimos no bolso e fomo-nos adaptando
como pudemos; a partir de agora vamos pagar, não em dinheiro mas em qualidade
de vida. É esse o próximo ciclo.(Ler artigo complecto)
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