Eduardo
Oliveira Silva, jornal i
Passos
Coelho cumpre com o que sempre quis e Portas volta a trair a palavra dada e
aceita uma TSU
Não
haja dúvida de que há um motivo ideológico puro e duro que emerge por detrás de
cada medida que o governo anuncia quando se trata de agravar a austeridade. A
experiência demonstra que existe o propósito assustador e deliberado de impor
cortes e sacrifícios acrescidos a dois grupos específicos de cidadãos: os
reformados e os funcionários públicos, nomeadamente aos primeiros, agora já
independentemente do sector de onde são oriundos.
Para
arranjar menos de 400 milhões de euros, que poderiam ser encontrados com um
aumento de meio por cento do IVA (um imposto cego mas justo) ou numa gestão
racional da execução orçamental ao longo de seis meses de exercício, o governo
recusou-se pura e simplesmente a procurar uma alternativa que não fosse
sacrificar perversamente o grupo mais frágil de cidadãos, que não tem hipótese
nenhuma de fugir ao alargamento da contribuição extraordinária de solidariedade
(CES), que passou a permanente, tendo o efeito de um imposto ou taxa, o que vem
dar rigorosamente no mesmo.
Não
houve um esboço de esforço para flexibilizar o défice junto da troika nem para
ir buscar dinheiro às PPP, que são fortalezas inexpugnáveis, protegidas por escritórios
ligados à política.
Além
de a CES, que, tanto quanto se sabe, pode passar a incidir sobre rendimentos de
reformas que rondam os novecentos ou mil euros, embora seja possível que o
governo aplique um valor ligeiramente acima para desanuviar a tensão em cima da
hora, o que mais impressiona em todo este processo é a lamentável figura de
Paulo Portas.
De
Passos Coelho esperava- -se este trilho desde o dia em que tomou posse, após
uma campanha em que prometeu exactamente o contrário do que faz com o maior dos
desplantes. Mas Portas não pára de surpreender pela falta de palavra, para não
dizer de carácter.
É
que foi ele que falou de linha intransponíveis e de decisões irrevogáveis. Foi
ele que ameaçou o governo até receber a ornamentação de vice-primeiro-ministro.
Foi ele que se atirou para o chão aquando da TSU, que agora ressuscita. Foi ele
que fez do CDS o partido do contribuinte e que tem andado a mudá-lo de CDS para
PP à medida de interesses pontuais e demagógicos, que já passaram por fases
pomposas como a defesa da lavoura, e recentemente a inauguração de um relógio
que supostamente faz as contas do regresso do país à soberania plena e ao fim
do protectorado. Seria risível se não fosse trágico.
Há
no comportamento permanente dos líderes da coligação algo de obsessivo e
sistemático dirigido contra extractos muito concretos da população, aos quais
pouco ou nada resta para se defenderem além do exercício do voto como
penalização, mesmo que se atirem para os braços de outros incompetentes ou até
de demagogos.
É
este o exercício medíocre do poder de quem se sente forte quando ataca os
fracos sem a menor compaixão e com uma imperturbável frieza, que perpassou na
forma como as coisas foram anunciadas de chofre e sem outras considerações.
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