terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Porque que é que a esquerda não casa?


Ao contrário do que se passou na Grécia onde o Syriza serviu para agregar vários partidos da extrema-esquerda em torno de um programa e, assim, federar o descontentamento, em Portugal, a esquerda insiste na fragmentação. Além dos partidos tradicionais, PCP e Bloco, há uma paleta imensa de forças políticas e associações que, movidas pelo sectarismo e pelos ódios pessoais, se mostram incapazes de se juntar. E essa é apenas uma das razões que ajuda a explicar porque razão a esquerda radical cá do burgo não conseguirá repetir o feito do Syriza. Outra, bem mais estruturante, é que, de facto, Portugal não é a Grécia. Com um número de habitantes mais ou menos semelhante nos dois países, os gregos têm uma taxa de desemprego (27%) que é o dobro da portuguesa.
Por mais elevado que seja, e é, o desespero dos portugueses não atingiu ainda a cólera e a humilhação dos gregos. A juntar a isto, não se vislumbra no panorama político português nenhum líder com o carisma e a capacidade de mobilização de Alexis Tsipras. Por fim, e este talvez seja o ponto mais importante, ao contrário do Syriza que se assumiu como verdadeira alternativa de poder, os partidos mais à esquerda em Portugal preferem a comodismo da oposição e a comodidade de não terem de assumir responsabilidades governativas. Enquanto se comportarem assim, os portugueses nunca vislumbrarão ali alternativa.
Nuno Saraiva, DN

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