Creio que a televisão
era a SIC, sempre pressurosa e solícita em noticiar episódios que tenham como
protagonistas ministros, empresários e afins. O sr. Manuel Agonia, pelo que vi,
é um senhor considerável, robusto e, até, um pouco bojudo, que me fez lembrar
os desenhos de George Grosz. Faltava-lhe o charuto, no que lhe sobrava de
sobranceria. Em posição subalterna, porém muito satisfeito e feliz, caminhavam
Pedro Passos Coelho e uma comitiva sorridente. O sr. Agonia, pelo que soube a
seguir, é o presidente do conselho de administração do Hospital Senhor do
Bonfim, em Vila do Conde, recém-inaugurado. Tudo isto decorre numa nítida
perfeição, inclusive os sorrisos, as palmas e os discursos de circunstância.
Foi quando a festa se toldou, pois o sr. Agonia, presidente, disse: "É
preciso não esquecer que a saúde é um negócio." Caímos na realidade,
porque a frase, só na aparência inócua, comporta, no seu bojo, uma doutrina, um
projecto e uma alteração social que não devem ser negligenciados. Se queres ter
saúde, paga-a. Se não tiveres dinheiro, morre para aí, despejado pela miséria. (Ler mais)
Baptista Bastos, Jornalista
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