Recado ao Pedro:
Eu vou-te avivar a memória, já que não te lembras daquilo
que fizeste quando eras Primeiro Ministro.
A primeira medida que tomaste foi o aumento do IVA,
recordas?
Dessa medida resultou a falência de milhares de PMEs e o
desemprego de milhares de trabalhadores.
Milhares de pequenos empresários ficaram sem meio de vida,
cheios de dívidas viram-se obrigados a entregar casas aos bancos e a pedir
esmola.
Conheci vários que se mataram dentro das empresas em
desespero porque como eram empresários nem direito tinham a um subsídio de
desemprego.
O desemprego disparou para níveis nunca vistos neste país.
As IPSSs, a Cáritas e outras organizações de Solidariedade
Social não tinham mãos a medir para atender pedidos de ajuda de famílias
inteiras que sem apoios da Segurança Social estavam a passar fome e
desesperadas sem conseguirem fazer face ás despesas básicas.
Milhares de famílias foram atiradas para a rua, despejadas
das suas casas pela Banca, por senhorios e pelas Finanças através de penhoras
por dívidas ao Estado, quando muitas dessas dívidas eram de valor inferior ao
valor real das habitações.
Depois vieram os cortes nas pensões de reforma, no
complemento solidário para idosos, nas pensões de viuvez, nos abonos de família
e nas pensões não contributivas como por exemplo no RSI que cortaste a torto e
a direito sem olhar a quem e sem apelo nem agravo.
Aumentaste o IMI, começaste a cobrar IUC sobre veículos
independentemente de estarem ou não em circulação, chegando ao ponto de cobrares
esse imposto a quem nem carro tinha ou sobre veículos já abatidos há anos.
Aumentaste impostos na gasolina, no gasóleo, no tabaco, nas
bebidas alcoólicas, aumentaste as portagens e todos esses aumentos foram reflectir-se
no aumento do custo de vida que como é óbvio foi mais sentido pelas classes
sociais mais frágeis e carenciadas.
Criaste as taxas moderadoras e com essa medida muitos idosos
deixaram de ir ao médico ou aos hospitais.
Fechaste Centros de Saúde, Maternidades e Hospitais e muitos
idosos morreram por falta de assistência médica, mas também jovens e
parturientes morreram por falta de cuidados médicos.
Doentes oncológicos viram as suas cirurgias adiadas e sem
cuidados continuados.
Doentes crónicos ficaram sem médicos de família e sem
comparticipação em medicamentos imprescindíveis ao tratamento das suas doenças.
Lembras-te dos doentes com Hepatite C a quem negaste um
medicamento que podia salvar vidas e mesmo curar?
Deu até azo a manifestações populares na AR que a tua amiga
Assunção Esteves reprimiu e mandou deter alguns doentes que se manifestavam
indignados e com razão!
Não eram suicidas, mas tu querias bem lá no fundo que fossem
para poupares algum. Fazia-te jeito para ficares bem visto perante a Troika e a
tua amiga Merkel.
Fechaste escolas e fizeste dos professores e das suas vidas
gato sapato, obrigando-os a andar em Bolandas sem saberem o que fazer e onde
ir!
Mudaste Freguesias, alteraste comarcas, encerraste Tribunais
e deste com os juízes e advogados em doidos com a porcaria do sistema Citius
todo baralhado.
Esqueceste essa cena?
Eu lembro-te.
Dessa confusão resultaram prejuízos para empresas, para
cidadãos e para todo o país que nunca mais se vai recuperar!
Pais que perderam a guarda dos filhos conheci 19, 5
mataram-se.
Fora os que não conheço e olha que não conheço muita gente.
Mães que se viram sem as pensões de alimentos por culpa da
baralhada com o Citius foram milhares.
Uma era professora e o filho era deficiente.
Atirou-se da varanda de um hotel.
Mas também houve mães que envenenaram os filhos e a seguir
mataram-se porque não tinham nem emprego nem apoios e nem ajuda de psicólogos.
Sabes Pedro, moro em Almada.
Fui obrigada a vir morar para aqui.
Não, não foi culpa tua.
As coisas neste país já não estão bem há muitos anos.
Realmente apanhaste o país num grande caos económico, mas
mesmo assim se fosses honesto e um bom gestor terias evitado cortar onde mais
doeu!
Os cortes atingiram os mais fracos e para recuperar um país
começa-se por por ordem nas finanças públicas cobrando impostos aos que não
pagam.
Mas para o fazeres, para cobrares aos que sempre fugiram aos
impostos terias de começar por ti, não é assim?
E depois os teus amigos e financiadores não iriam gostar
nada de terem de alargar os cordões à bolsa.
Mas como te dizia, vim viver para Almada há uns anos e
sabes, aqui temos uma Ponte onde todos os dias durante o teu governo assistimos
a muitos suicídios.
E também temos o Metro que não é subterrâneo, é como um
eléctrico sabes?
Pois volta e meia para não dizer uma a duas vezes por
semana, lá se tinha de chamar o INEM por causa de um velhote ou velhota que
"escorregava" e caía à linha!
E quantos eu vi a chorar de vergonha por serem apanhados no
supermercado a guardar uma lata de salsichas ou de atum na mala ou num bolso do
casaco!!
E outros a saírem da farmácia sem aviar a receita porque a
reforma tinha encolhido e os filhos tinham-se mudado lá para casa e estavam
desempregados e sem subsídios de desemprego!
Sabes Pedro, sabes qual é o teu mal?
Teres tido um pai fantástico e uma mãe que tudo te
desculpou.
Os anos de cabulice, as más notas no liceu, as noitadas na
vadiagem, a vida boémia, as drogas, a pouca ou nenhuma vontade de estudar ou
trabalhar e a falta de respeito por toda a gente.
Tu não tens noção da quantidade de vidas que deste cabo ao
longo da tua vida, não só nos quatro anos em que te tivemos de aturar como
Primeiro Ministro, mas desde que te conheci quando vivias na Rua República da
Bolívia.
Tenho pena de não ter adivinhado naqueles anos naquilo em
que tu te irias transformar!
A sério Pedro.
Naquele dia em que chamei a PSP de Benfica e evitei que a
malta do Bairro do Charquinho te desse um arraial de porrada, se eu tivesse
adivinhado no que te irias transformar, eu tinha fechado os olhos e fingido que
te tinhas atirado da varanda do quinto andar.
Teria evitado tanta coisa, até ouvir as alarvidades que
continuas a atirar pela boca fora.
Tantos anos depois e continuas a ser o mesmo chulo que
conheci na nossa adolescência e juventude.
Olha Pedro, queres um conselho?
Reforma-te da política e mete uma rolha na boca ou um dia
destes apareces suicidado nalguma esquina da vida.
É que nem todos os que te conhecem bem são tão pacíficos e
compreensivos como eu e como a malta que te aparou as pancas lá em Benfica, tu
sabes bem na casa de quem.
Espero que a Laura recupere depressa da maldita doença.
Ela não merece tanto sofrimento!
E se um dia nos voltarmos a cruzar nalguma rua de Lisboa
vira o rosto, para que eu não me sinta tentada a sujar as minhas mãos na tua
cara.
É que eu tentei duas vezes o suicídio por tua causa quando
me vi atirada para a rua sem qualquer apoio e a lutar contra o cancro e sem
ajuda psiquiátrica.
Não acertei na dosagem.
Não tinha de ser.
Quem sabe o que a vida me reserva?
Talvez me reserve a felicidade de te ver a ti Pedro e aos
teus amiguinhos (tu sabes a quem me refiro) atrás das grades e a pagares pelos
milhares de vidas dos que se suicidaram ou tentaram em desespero por vossa
causa!
Assino o nick com que me conhecias: Nini Nilo
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